 |
Karl Axel Ekbom (1907-1977) |
O Delírio
Dermatozóico de Ekbom, também conhecido como síndrome de Ekbom, delírio de
infestação parasitária, acarofobia, "delusional parasitosis" e
parasitose psicogênica, é uma doença que ocorre raramente. Observa-se, mais
frequentemente, em consultórios ou ambulatórios de atendimento a pessoas idosas,
mas ocorre também em pacientes pré-senis. É caracterizado por uma crença firme
e bem estabelecida de que o paciente está infectado por vermes que saem de sua
pele, ou se deslocam por debaixo da mesma, preponderando em áreas do couro
cabeludo, boca, olhos e região genital. A maioria dos pacientes é do sexo
feminino. Com frequência, está associada a isolamento social e às demências, em
particular a demência de Alzheimer. Pode ocorrer também associação a
transtornos orgânicos, como hipertireodismo, diabetes e intoxicações
medicamentosas.
 |
O prof. Ekbom também foi o primeiro a descrever a Síndrome das Pernas Inquietas. |
A
primeira descrição clínica deste quadro deve-se a Thibierge, em 1894, que lhe
deu o nome de acarofobia. Em 1896,
Perrin publicou três casos aos quais denominou de neurodermia parasitofóbica, em duas mulheres e um homem, em idades
próximas aos 50 anos. Em geral, havia prurido intenso, com escarificação da
pele, sem que qualquer transtorno dermatológico tenha sido encontrado.
 |
Pequenos parasitas que correm por debaixo da pele, mas que podem também ser interpretados como insetos, tais como formigas. |
Em
1938, o psiquiatra sueco Karl Axel Ekbom (1907-1977) descreveu esses casos mais
detalhadamente e os enquadrou em um quadro sintomatológico mais amplo,
dando-lhe uma classificação nosológica distinta.
 |
O trabalho original de Ekbom. |
As
principais características desta síndrome são:
1-
É rara e de início insidioso (em pouquíssimos
casos têm início súbito);
2-
Geralmente é encontrada em mulheres idosas
ou no período involutivo;
3-
É um
transtorno delirante isolado, sem a presença de outros delírios, pobre,
monotemático, coerente e apoiado em sensações tácteis variadas, que levam a
coceiras e picadas;
4-
Atinge principalmente o couro cabeludo,
tórax e orifícios corporais;
5-
Pode ocorrer após contatos com animais,
após alguma relação sexual ocasional, ou após proliferação de insetos, como baratas,
na residência do paciente;
6-
São crônicos;
7-
O paciente relata a presença de pequenos parasitas,
do tipo pequenos vermes, que saem da pele ou andam sob a mesma, caem de seus cabelos,
e pode até sentir os odores dos “bichinhos”;
8-
Os parasitas são descritos como algum tipo
de piolhos, vermes ou mosquinhas;
9-
Há uma percepção visual deformada da pele
do próprio paciente, a ponto do mesmo interpretar que os poros são pequenos
buracos escavados pelos parasitas;
10-
Os pacientes tentam convencer os que lhes
estão próximos de que estão sofrendo uma infestação real, muitos deles até
arrancam pedacinhos da pele com auxílio de agulhas e lâminas de barbear, e os
guardam em vidrinhos com álcool para provar sua existência;
11-
Alguns pacientes tentam se ver livres dos
parasitas tomando banhos sucessivos e lavando, com frequência, seus cabelos;
12-
Muitos pacientes desenvolvem o temor de
contaminar outras pessoas o que os leva a um grande isolamento social;
13-
Alguns pacientes, com a cronificação do
quadro, se resignam com a presença desses parasitas em seu corpo e, apesar de
muito incômodos, ficam mais tranquilos com o tempo;
14-
Podem ocorrer em quadros parafrênicos, psicoses
alucinatórias, em pacientes depressivos, em delírios induzidos e até em quadros
histéricos;
15-
Pode ser um sinal inicial de demência;
16-
Os pacientes apresentam uma resposta pobre
aos tratamentos com antipsicóticos. Respostas terapêuticas mais seguras têm sido
obtidas com antipsicóticos atípicos (notadamente a risperidona).
No vídeo encontrado no link abaixo vemos o depoimento do filho do prof. K.A. Ekbom:
Trabalho publicado pela equipe de psiquiatria geriátrica do HC-UFMG, em 1999:
Outro link onde pode ser lido excelente publicação sobre a síndrome: