Quando iniciei meus primeiros
contatos com a psiquiatria corria o mês de agosto de 1966. Era eu, então, um
jovem estudante na Faculdade de Medicina da UFMG. Havia recém concluído a
disciplina de farmacologia, cujo professor titular (então era conhecido como
professor catedrático) era o prof. Santiago Americano Freire, um cientista que,
após sua aposentadoria, dedicou-se a trabalhos em áreas muito próximas à
psiquiatria. Logo após concluir a disciplina de farmacologia, submeti-me a
avaliações com entrevistas e testes quando fui admitido como interno acadêmico
no Hospital Galba Velloso, então um foco polarizador de ideias que estavam
renovando a psiquiatria mineira. Na ocasião, existia a figura do interno
acadêmico, isto é, o estudante de medicina que, a partir do terceiro ano da
faculdade, após concluir algumas disciplinas fundamentais e submeter-se a
determinadas avaliações, podia ser admitido em hospitais, com o fim de
estagiar, trabalhar como plantonista, prestar atendimento a enfermarias e
ambulatórios. Em troca, caso o desejasse, poderia ali residir, o que foi o meu
caso.
A psiquiatria
mineira passava por algumas transformações importantes. Em 1963, a direção do Hospital
Galba Velloso fora transferida para as mãos do Dr. Jorge Paprocki, então um
nome em ascensão em Minas Gerais, em função de suas pesquisas e
publicações em revistas científicas acerca do uso de anestésicos e narcose na
eletroconvulsoterapia (ECT). Paprocki trabalhava ao lado do psiquiatra Ivan
Ribeiro e do anestesiologista Petrônio Boechat. Paprocki também se tornava
conhecido nacionalmente, em função de suas pesquisas e publicações na área de psicofarmacologia,
então um setor da psiquiatria em franco desenvolvimento. A partir de 1952, uma verdadeira revolução
na psiquiatria ocorria desde a publicação, por dois psiquiatras franceses, Jean
Delay e Pierre Deniker, da ação terapêutica da clorpromazina nas psicoses
esquizofrênicas e na psicose maníaco-depressiva, (então o nome adotado para o
atual Transtorno Bipolar do Humor).[1]
A administração de Jorge Paprocki
foi uma grande e impactante novidade na psiquiatria mineira e brasileira. Trouxe
novas ideias, bafejadas pela onda internacional que adotava terapêuticas menos
rígidas para os doentes mentais., Tais terapêuticas incluíam a redução de contenções
físicas, preferência pela utilização de
psicofármacos sobre outros métodos biológicos mais invasivos ou traumáticos do
ponto de vista psicológico, ressocialização através de comunidades
terapêuticas, ambientoterapia, socioterapia, suporte psicoterápico
institucional, terapia ocupacional e outras. Os resultados logo começaram a
surgir. Aliado a tudo isto, num gesto audacioso para aqueles tempos (e ainda
para os dias atuais), Paprocki instituiu o chamado “open-door integral”,
isto é, as enfermarias não eram trancadas com grossas portas com barras de
ferro para evitar a fuga de pacientes. Em vez disto, não havia portas. Uma das
pacientes, já em melhores condições psíquicas do que os demais e com previsão de
alta hospitalar, era colocada na entrada da enfermaria para controlar a entrada
e saída dos outros pacientes. Não é de se espantar que o burburinho tenha logo corrido
pelos meios clínicos, científicos, acadêmicos, profissionais e até leigos da
Capital. Mas os resultados foram extremamente animadores, o que incentivou esta
política de lidar com os pacientes psiquiátricos.
Outra política adotada por Jorge
Paprocki foi a de abrir as portas do hospital para jovens estudantes de
medicina que desejassem seguir a especialidade da psiquiatria, acolhendo-os
como internos acadêmicos. Grande parte deles passou a residir no HGV, em um
setor reservado para área residencial dos médicos e estudantes, que trabalhavam
nos plantões, nas enfermarias e no serviço de internação hospitalar, ao mesmo
tempo em que recebiam treinamento e supervisão dos psiquiatras mais experientes
do hospital. A notícia desta novidade correu como um raio pela cidade e pelo
estado, e o atraiu uma plêiade de jovens estudiosos e sequiosos de conhecimento
e treinamento especializado. Esse movimento constituiu o berço de uma grande
geração de futuros psiquiatras que se destacaram nas mais diversas áreas da
psiquiatria, da psicanálise, da psicoterapia, da neuropsiquiatria e das
neurociências. Deste berçário surgiram grandes profissionais, pensadores,
clínicos e pesquisadores, muitos dos quais ainda continuam atuando em todo o
País. Infelizmente, muitos já se foram, deixando um rastro de saudades.
Jorge Paprocki, como diretor, era
severo, respeitado e, de certa forma, temido, Mas, ao mesmo tempo, era bondoso,
compreensivo e incentivador das habilidades e qualidades individuais de cada um
internos. Ele tinha consciência disso e se esmerava em seu papel, no que,
aliás, se revelou uma conduta por demais correta e que lhe rende reverências e
homenagens até os dias atuais.
Alguns
profissionais experientes já haviam sido arrebanhados sabiamente por Jorge Paprocki.
Entre eles posso citar: Benítez Emílio Conde,
experiente neurologista; Dalton Lintz de Freitas, também experiente
neurologista e eletroencefalografista; Emílio Grimbaun, grande clínico e
cardiologista, excepcional figura humana, um dos pioneiros da medicina psicossomática em
Minas Gerais; Geraldo Ribeiro, conhecido como Geraldo Cegonha, ginecologista e
obstetra de renome nacional, um dos pioneiros da fertilização in vitro no Brasil; Belces de Paula, também um
excelente clínico geral, com especialização em endocrinologia nos Estados
Unidos; Edson Rasuk, grande cardiologista; José Luiz de Amorim Ratton, clínico.
E muitos outros médicos de grande reputação, cuja memória me trai neste
momento.
Dentre os psiquiatras mais
experientes e grandes mestres da prática diária de um hospital posso citar:
Helênio Coutinho Guimarães, Neusa Magalhães Carneiro, Pedro Lopes de Oliveira, José
Pedro Salomão, José James de Castro Barros, José Domingues de
Oliveira, Aldorando Ricardo do Nascimento, Mário Catão Guimarães, José Raimundo
Lippi e a onipresente Eunice Rangel, braço direito de Paprocki que, com sua dedicação
e comprometimento, muito contribuiu para as grandes conquistas psiquiátricas de
então.
Quando cheguei ao
HGV, como dito, pela primeira vez, como exigido pelo protocolo de avaliação de
futuros internos acadêmicos, eu havia concluído a disciplina de farmacologia na
Faculdade de Medicina da UFMG, onde eu iniciara meu curso médico em abril de
1964. Era agosto de 1966. Eu estava extremamente ansioso e na expectativa de
conseguir uma vaga naquele templo de conhecimento e ensino psiquiátrico. Fui
entrevistado por Eunice Rangel e me submeti aos testes de personalidade no
mesmo dia. Éramos eu e um colega de turma, Ângelo Pezzuti, que mais tarde se
destacaria na luta armada contra a ditadura militar do Brasil. Pouco depois,
ele entraria para a clandestinidade e, tendo sido preso pelo governo militar,
se exilaria na Europa, onde veio a ter um fim trágico.
Na ocasião, já
havia um considerável número de internos acadêmicos que ali trabalhavam e
estudavam há, pelo menos, dois ou três anos. Posso citar: Marco Aurélio Baggio,
César Rodrigues Campos, Odília Miguel Pereira, Francisco Juarez Ramalho Pinto,
Virgílio Bustamante Rennó, Francisco Paes Barreto, Francisco Xavier, Vicente
Santos Dias, José de Assis Corrêa, Eudes Ramón Paredes Montilla (venezuelano),
José Carlos Pires Amarante, Arlindo Carlos Pimenta e Walmor Piccinini (este
vindo do Rio Grande do Sul). No mesmo período em que fui aprovado como novo
interno acadêmico, outros dois colegas de minha turma de faculdade, Javert
Rodrigues e Rodrigo Teixeira de Salles, também o foram. Constituíamos, assim,
quatro colegas da mesma turma de faculdade a estagiar no Galba. Deles, o único
que passou a residir no hospital fui eu. Um ano mais tarde, recebemos a
companhia de mais três colegas de nossa turma da faculdade: Lélio Marcio Dias,
Maria Muniz Passos (Lia) e Maria Auxiliadora Athayde (Dodora). [2]
Outros estagiários,
de turmas da faculdade anteriores à minha, logo se incorporaram a este
multifacetado grupo de jovens idealistas e estudiosos, como José Ronaldo
Procópio, Claudio Pérsio Carvalho Leite e Hélio Roscoe. Também havia se
incorporado um grupo de psicólogos estagiários e estudantes de psicologia,
inteligentes e dedicados, como: Welber Braga, Elizabeth Clark, Flávio José de
Lima Neves e outros. Formou-se também, aos poucos, um grande grupo de
enfermeiras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, todos a enriquecer o
grupo com seu dedicado trabalho. Também havia uma equipe de professoras para o
curso fundamental que ministravam aulas de cuidados pessoais, higiene, auxílio
à leitura e escrita, para as pacientes internadas, como um complemento às
diversas terapias disponíveis. Esta foi uma experiência única e pioneira no
estado que durou por não mais que três anos. [3]
Pouco após minha
inclusão na “turma do Galba”, como o grupo era conhecido fora da instituição, iniciei
meu trabalho no Centro de Estudos Galba Velloso (CEGV). No princípio como
bibliotecário, depois como diretor de publicações e, finalmente, em 1969, sucedendo
à gestão de José Carlos Pires Amarante, como presidente. O CEGV fora criado em
1964 e tivera como presidentes, em gestões sucessivas, Eunice Rangel, José Domingues de Oliveira, e os acadêmicos Francisco Paes Barreto e José Carlos Pires Amarante. Como
diretor de publicações, em 1968, idealizei a publicação de um livro sobre
psicofármacos, já que nada havia sido publicado no Brasil, até aquela data. Pensei
numa obra escrita a várias mãos, na qual cada um dos membros do corpo clínico
se encarregaria de escrever um capítulo. Combinei com o grupo uma reunião no
Centro de Estudos, quando apresentei meu projeto, tendo o mesmo sido aprovado.
Foram escolhidos os temas farmacológicos e distribuídos segundo a predileção de
cada um. Por unanimidade, tornei-me o editor desta obra que, jamais
imaginávamos, marcou época na psiquiatria brasileira. Passaram-se seis meses de
trabalho intenso e profícuo. Trabalhamos muito, mas os resultados foram
extremamente compensadores.
Nesta época, antes
da era das residências de psiquiatria, a “turma do Galba” realizava estudos
auto-didáticos, geralmente em grupos e utilizando os tratados de psiquiatria
famosos do período. Um deles era o do psiquiatra argentino Juan Beta, Manual
de Psiquiatria, livro considerado por demais organicista numa época em que
a psicanálise já dominava amplamente a psiquiatria brasileira e mundial. Também
o Manual de Psiquiatria, de Mayer-Gross, em que pese sua orientação
organicista, era mais aceito que o anterior. Em contrapartida, Iracy Doyle, com
sua Nosologia Psiquiátrica, tinha profundas raízes psicodinâmicas.
Era um livro que praticamente decorávamos por inteiro. Outros autores e obras
importantes estudados com afinco, em que noites eram varadas sobre suas
páginas, em particular na sala do CEGV: Psiquiatria Dinâmica, de
Henri Ey, Psiquiatria Clínica Moderna, de Noyes e Kolb, Psicopatologia,
de Kurt Schneider, Tratado de Psiquiatria, de Manfred
Bleuler, História da Psiquiatria, de Franz Alexander, Psicopatologia
Geral, de Karl Jaspers, Temas Psiquiátricos (um extenso
tratado de psicopatologia), de Cabaleiro-Goás, Psicologia Médica,
de Juan-José Lopez-Ibor, os livros de Weitbrecht e Tellembach, Estratégias
em psicoterapia, de Jay Haley, e muitos outros. Tomávamos também
conhecimento, a partir de 1968, do trabalho do grande psiquiatra espanhol,
Francisco Alonso-Fernandez, com sua obra, Fundamentos
de la Psiquiatría Actual, uma expressão da excelência psiquiátrica do
período. Somente no final da década de 1970 surgiu o também muito
aguardado Psiquiatria, do Prof. Nobre de Melo. Mas, então, todos
nós já estávamos longe do Galba.
Além dos estudos
livrescos, com frequência eram convidados grandes experts e profundos
conhecedores da psiquiatria para proferirem palestras no CEGV: prof. Clóvis de
Faria Alvim, um dos psiquiatras mais cultos que conheci, prof. Paulo Saraiva,
que não ficava atrás com seu conhecimento enciclopédico, prof. Hélio Durães
Alkmin, prof. Austregésilo Ribeiro de Mendonça, Fernando Megre Velloso, Joaquim
Affonso Moretzsohn, Ivan Ribeiro da Silva, Francisco Hugo Badaró, Geraldo Megre
de Resende, Aspásia Pires de Oliveira e o prof. José Elias Murad, com suas
aulas memoráveis sobre psicofarmacologia.
As tendências entre
os internos acadêmicos já se faziam esboçar, a maioria com pendores para os
estudos de psicanálise. Alguns foram tomados de verdadeira afeição pela teoria
freudiana e pela psicoterapia analítica. No meu caso, em particular, apesar de
ter feito análise de grupo por seis meses com o prof. Célio Garcia e quase um
ano e meio de análise individual com Jarbas Moacir Portella, o meu namoro com
as teorias pavlovianas e sua neurofisiologia aplicada à psiquiatria e
psicologia, demonstrou possuir uma força mais vigorosa e suas teorias
científicas tiveram para mim o gosto da “verdade”. Éramos todos muito jovens,
idealistas e radicais. Não havia espaço para o meio-termo, para a síntese, para
o holismo.
Enquanto isso, me
formei em Medicina pela UFMG, em dezembro de 1968. Candidatei-me à residência
de psiquiatria, criada um ano antes, em convênio da Secretaria de Estado da
Saúde de Minas Gerais com a Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Foi
a primeira residência de psiquiatria no estado. Fui aprovado, para meu gáudio e
glória e participei, com muita honra, da segunda turma dessa residência. Não
poderia ter dado passo mais acertado em minha vida.
A obra Psicofármacos ficou
pronta em maio de 1969. Tiragem de dois mil exemplares. Estávamos todos nós radiantes
e transpirando felicidade e autoconfiança. Os recursos vieram das economias
feitas pela tesouraria do CEGV, durante mais de um ano. Tornou-se uma obra
bonita, apesar de simples. Como editor, a dediquei a Jorge Paprocki, com as
seguintes palavras: “Ao Dr. Jorge Paprocki. Mestre e amigo”. Meu irmão,
Dilermando Corrêa Filho, artista plástico, desenhou a capa, em nanquim, mas
tive antes o cuidado de submetê-la à avaliação de todos, quando foi aprovada. O
livro rapidamente passou a ser vendido em grande quantidade na Cooperativa
Editora e de Cultura Médica. Como enviamos inúmeros exemplares, em forma de
permuta, para bibliotecas de universidades, hospitais, instituições
psiquiátricas pelo Brasil afora, logo o livro se tornou bastante conhecido. Foi
uma obra que marcou época na psiquiatria brasileira e, por mais de seis anos,
foi a única sobre psicofarmacologia publicada no Brasil. Apenas em 1975 o prof.
José Caruso Madalena, do Rio de Janeiro, publicaria um outro livro na área, com
um teor um pouco diferente. Mas uma obra maior e mais atualizada somente foi
publicada pelo mesmo Caruso Madalena em 1979, portanto, dez anos após o
trabalho da “turma do Galba”.[4]
Em julho de 1969
ocorreu o IX Congresso Brasileiro de Neuropsiquiatria, Neurologia e Higiene
Mental, no Hotel Copacabana Palace, Rio de Janeiro. Lá fomos nós, a turma do
Galba, capitaneados por Fernando Megre Velloso e Jorge Paprocki, para fazer o
lançamento nacional do livro no congresso. Sucesso absoluto. A edição, primeira
e única, se esgotou em pouco tempo. Hoje quem possui um exemplar tem uma
relíquia nas mãos.
Capa do livro "Psicofármacos", de 1969. |
Poucos meses
depois, em agosto de 1969, lançamos a Revista do Centro de Estudos
Galba Velloso. Era uma idéia que acalentávamos há mais de um ano,
paralelamente ao livro Psicofármacos. Mais uma vez, contamos com a
colaboração de todos e, principalmente, de Paprocki e Eunice Rangel para
viabilizar o sucesso do empreendimento. Contamos com o patrocínio de alguns
laboratórios farmacêuticos, o que nos pavimentou o caminho da plena realização
da obra. O lançamento do primeiro número se deu nos salões da Associação Médica
de Minas Gerais, quando a iniciativa foi saudada por Jarbas Moacir Portella,
analista didata do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Muitos de nós
fazíamos análise com o Dr. Jarbas, eu inclusive, como já relatado.
Nesta e nas figuras anteriores: Revista do Centro de Estudos Galba Velloso em seus primeiros números. |
A residência de psiquiatria
fora criada em 1968, tendo a primeira turma os seguintes residentes: José
Carlos Pires Amarante, José Ronaldo Procópio, José de Assis Corrêa, Eudes Ramon
Paredes Montilla, João Luiz da Silva Toni, Claudio Pérsio Carvalho Leite, Hélio
Roscoe e Virgílio Bustamante Rennó. A segunda turma, de 1969, contava com:
Rodrigo Teixeira de Salles, Javert Rodrigues, Maria Auxiliadora Athayde, Maria
Muniz Passos (Lia), Maurício Sartori, Vicente Santos Dias, Lélio Marcio Dias e
Antônio Carlos Corrêa. A terceira turma, de 1970, era composta por: Antônio
Leite Rangel, Adelgício José Melo de Paula, João Francisco Lobo Ribeiro, Clovis
Sette Bicalho, Rosemberg Fonseca, Marcos de Melo Couri e Delcir Antônio da
Costa.
A residência havia
sido enriquecida com o aporte de jovens profissionais ao corpo docente. Alguns
haviam feito sua formação no Rio de Janeiro, com o prof. Leme Lopes, como foi o
caso de André Faria d’Azevedo Carneiro, dono de sólidos conhecimentos da psicopatologia
fenomenológica alemã clássica. Os estudos de Karl Jaspers eram obrigatórios,
bem como dos filósofos Husserl, Dilthey, Martin Heidegger e outros da escola
analítico-existencial alemã. E eram motivos de debates frequentes.
Março de 1970 -
Simpósio Nacional sobre Depressão.
Parte da
"turma do Galba". Da esquerda para a direita:
Cristina e Rodrigo
Teixeira de Salles, Marcio Sampaio,
Roberto Rangel,
Eunice Rangel, José Ronaldo Procópio,
Antônio Leite
Rangel, Jorge Paprocki, Maurício Sartori,
Maria Muniz Passos
(Lia), Delcir Antonio da Costa
e Antônio Carlos
Corrêa.
O Galba estava em
seu apogeu e era considerado uma das referências da psiquiatria brasileira.
Havia inúmeros candidatos à residência de diversas localidades de Minas e de
outros estados. Ao mesmo tempo, o prestígio nacional de Jorge Paprocki atingira
alturas inimagináveis. Era convidado para eventos pelo País afora. Havia também
o interesse da indústria farmacêutica em promover lançamentos de seus produtos
no HGV. Tal ocorreu em março de 1970, quando o laboratório Ciba-Geigy planejou
lançar o Anafranil injetável, um importante antidepressivo da época, e propôs
que o lançamento se realizasse durante um Simpósio Nacional sobre Depressão no próprio
HGV. Todos se mobilizaram para o evento, que foi um sucesso, em março de 1970.
Personalidades de renome nacional da psiquiatria e de outras especialidades
médicas prestigiaram o evento, que também teve o patrocínio da Associação
Brasileira de Psiquiatria, então uma jovem de apenas quatro anos de idade. A
ABP foi criada em 1966, com a participação ativa de Fernando Megre Velloso e
Jorge Paprocki.
Sessão inaugural do Simpósio sobre Depressão com palestra do
Prof. Magalhães Gomes, professor catedrático de Clínica Médica
na Universidade do Brasil (atual UFRJ). Na primeira fila,
à esquerda, o Prof. Clóvis Martins, da USP. Ao seu lado, o grande psiquiatra e psicanalista da USP,
Prof. Darcy de Mendonça Uchôa.
|
|
Antes, em 1969, por
inspiração de Jorge Paprocki, a equipe do HGV começou a aventar a hipótese da
realização do I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Era um evento jamais tentado
antes, em função das divisões internas da psiquiatria mineira. Para não
melindrar susceptibilidades, todas as grandes figuras da psiquiatria do estado
foram convidadas a participar, sem exceção. Houve um apoio maciço de nossa
comunidade psiquiátrica que atendeu ao apelo de forma entusiástica e
incentivadora. Houve algumas exceções, como de praxe em tudo que se faz em
qualquer área. Foi planejado o congresso para ocorrer entre 26 e 29 de junho de
1970, no Grande Hotel de Araxá. Tudo foi cuidadosamente planejado e preparado
um ano antes do evento. Não tínhamos nenhuma experiência em tais atividades e
enfrentamos inúmeras dificuldades, com sacrifício, mas com grande orgulho e
satisfação. Este congresso foi um divisor de águas na psiquiatria mineira.
Aglutinou um numeroso grupo de psiquiatras de Minas e de outros estados, com
ênfase em participantes do Estado de São Paulo, mas vieram profissionais até do
Nordeste e do Sul do País. Foi um sucesso. O Dr. Fernando Megre Velloso foi
convidado para ser seu presidente de honra. O I Congresso Mineiro de
Psiquiatria teve a seguinte composição de suas várias comissões:
Comissão
Organizadora
Presidente de
honra: Fernando Megre Velloso
Presidente: José
Raimundo da Silva Lippi
Vice-Presidente:
Francisco Paes Barreto
Secretário: Antônio
Carlos Corrêa
Tesoureiro: Marcos
Otávio Gonçalves
Comissão de Divulgação e Imprensa
Eunice Rangel
Paulo Saraiva
Mário Catão
Guimarães
Javert Rodrigues
Antônio Leite
Rangel
Comissão Científica
Jorge Paprocki
Jarbas Moacir
Portela
Sebastião Abrão
Salim
César Rodrigues
Campos
Maria Auxiliadora
de Souza Brasil
Comissão de
Finanças
Marcos Otávio
Gonçalves
Armando Leite Naves
Rodrigo Teixeira de
Salles
João Luiz Silva
Toni
Comissão de
Recepção e Alojamento
Maria Muniz Passos
Vicente Santos Dias
Marco Aurélio
Baggio
Arlindo Carlos
Pimenta
Assistente Social Izabel Izilda
I Congresso Mineiro de Psiquiatria - Araxá, 26 a 29 de junho de 1970.
Apresentação da conclusão de debates de comissão de temas específicos.
Da esquerda para a direita: Vicente Santos Dias (fazendo a apresentação),
Arlindo Pimenta, Antônio Carlos Corrêa, prof. Clovis Salgado (Secretário de
Estado da Saúde de MG), Jorge Paprocki e José Raimundo Lippi. |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria: da esquerda para a direita: Rodrigo Teixeira de Salles (apresentando um relatório), Antônio Carlos Corrêa, Fernando Megre Velloso, Joaquim Afonso Moretzohn. |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Da esquerda para a direita: Wellington Armanelli, Ronaldo Simões Coelho, Antônio Carlos Corrêa, prof. Osvaldo Moraes de Andrade (Tesoureiro da ABP - Rio de Janeiro). |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Da esquerda para a direita: prof. Walderedo Ismael de Oliveira (São Paulo), Eunice Rangel, Antônio Carlos Corrêa, prof. Osvaldo Moraes de Andrade (Tesoureiro da ABP). |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Da esquerda para a direita: Sebastião Abrão Salim (UFMG), José Carlos Pires Amarante (apresentando seu relatório), Antônio Carlos Corrêa, Fernando Megre Velloso, Joaquim Afonso Moretzohn. |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Aspecto da platéia. Ao fundo: José Caruso Madalena e prof. Osvaldo Moraes de Andrade (Rio de Janeiro). Na segunda linha à direita: prof. Walderedo Ismael de Oliveira (Rio de Janeiro) e Luiz Cerqueira (Rio de Janeiro). |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Grupo de trabalho. Da esquerda para a direita: Antônio Leite Rangel, congressista não identificado, idem, Antônio Carlos Corrêa e Sebastião Abrão Salim. |
I Congresso Mineiro de Psiquiatria. Da esquerda para a direita: Jarbas Moacir Portela, Mario Catão Guimarães, Flavio José de Lima Neves, Francisco Paes Barreto, Antônio Carlos Corrêa, Fernando Megre Velloso, Joaquim Afonso Moretzohn, José Raimundo Lippi, Jorge Paprocki. |
O temário do
Congresso, de acordo com as necessidades básicas da época, foi “O Hospital
Psiquiátrico”. Tema candente, mas ainda sem as conotações anti-nosocomiais dos
anos que viriam a seguir. O congresso se realizou no esquema de “grupos de
discussão”, onde os temas propostos eram debatidos e as conclusões apresentadas
em relatório nas sessões plenárias. Os temas abrangeram os seguintes tópicos:
1- Política
Assistencial e o Hospital Psiquiátrico em Minas Gerais
1.1 O
papel da Comunidade em relação ao hospital psiquiátrico.
1.2 O
papel do hospital psiquiátrico em relação à Comunidade.
1.3 O
papel do hospital de agudos no plano de assistência psiquiátrica
pública.
1.4 O
papel do hospital de crônicos no plano de assistência psiquiátrica
pública.
1.5 O
papel do hospital-dia-noite no plano de assistência psiquiátrica pública.
1.6 O
papel do ambulatório no plano de assistência psiquiátrica pública.
1.7 O
hospital de agudos como unidade de tratamento intensivo.
1.8 Organização
do hospital psiquiátrico sob o ponto de vista técnico.
1.9 Organização
do hospital psiquiátrico como fator terapêutico.
1.10 Critérios de avaliação de eficácia de
um plano de assistência
psiquiátrica.
psiquiátrica.
2- O
Ensino e Pesquisa no Hospital Psiquiátrico em Minas Gerais
2.1 O
hospital psiquiátrico como centro de ensino.
2.2 O
papel do hospital psiquiátrico na formação de pessoal
de nível superior.
2.3 O
papel do hospital psiquiátrico na formação de pessoal
de nível médio.
2.4 O papel
do hospital psiquiátrico como centro de pesquisa.
2.5 Critérios
de avaliação da eficácia de um plano de ensino e
treinamento.
3- Posição
Atual de Terapêuticas no Hospital Psiquiátrico
3.1 Posição
atual das terapêuticas biológicas no hospital
psiquiátrico.
3.2 Posição
atual das terapêuticas farmacológicas no hospital
psiquiátrico.
3.3 Posição
atual da psicoterapia individual no hospital
psiquiátrico.
3.4 Posição
atual da psicoterapia de grupo no hospital
psiquiátrico.
3.5 Posição
atual dos grupos operativos no hospital
psiquiátrico.
3.6 Posição
atual da praxiterapia no hospital psiquiátrico.
3.7 Posição
atual da arteterapia no hospital psiquiátrico.
3.8 Posição
atual da ambientoterapia no hospital psiquiátrico.
4- Definição de
Papéis Dentro do Hospital Psiquiátrico em Minas Gerais
4.1 O papel do psiquiatra em um hospital psiquiátrico.
4.2 O papel do psicanalista em um hospital psiquiátrico.
4.3 O papel do psicólogo em um hospital psiquiátrico.
4.4 O papel do assistente-social em um hospital psiquiátrico.
4.5 O papel da enfermeira em um hospital psiquiátrico.
4.6 O papel do praxiterapeuta em um hospital psiquiátrico.
4.7 O papel do administrador em um hospital psiquiátrico.
4.8 O papel do estagiário em um hospital psiquiátrico.
4.9 Conceituação e liderança de equipe psiquiátrica.
Como se pode
observar pelo temário, as preocupações da psiquiatria brasileira, em fins da
década de 1960, eram semelhantes às preocupações da psiquiatria mundial, em que
o papel dos diferentes profissionais era frequentemente questionado. Havia a
preocupação em acompanhar a evolução dos grandes centros mundiais da
psiquiatria e sua adaptação à nossa realidade mineira. De certa forma, pode-se
dizer que esses temas são questões, na maioria das vezes, ainda não resolvidas
entre nós, passados 44 anos do evento que deu início a uma psiquiatria mineira
mais consciente de seus objetivos, mais pertinaz na busca da realização de seus
sonhos, mais transparente e com melhores definições do trabalho de cada um
dentro de uma equipe psiquiátrica.
Uma das sessões do congresso. Da esquerda para a direita: Francisco Paes Barreto, Mario Catão Guimarães, Cesar Rodrigues Campos, Maria Muniz Passos (Lia), Antônio Carlos Corrêa, Fernando Megre Velloso, Joaquim Afonso Moretzohn, José Raimundo Lippi, Jorge Paprocki. |
Entretanto, as
divisões dentro da psiquiatria mineira persistiram. Em junho de 1971, o grupo
do HGV, mais uma vez tendo Jorge Paprocki à frente, organizou o II Congresso
Mineiro de Psiquiatria, em setembro, no Hotel Glória de Caxambu. Foi praticamente uma
sequência do anterior, com uma temática muito próxima. Houve avanços sim, na
definição de papéis, no aprimoramento dos métodos de ensino da psiquiatria, no
desenvolvimento de pesquisas clínicas e psicofarmacológicas, na melhora do
relacionamento com as especialidades a ela ligadas para a conformação de uma
adequada equipe interdisciplinar. Foi uma constante a preocupação com o aprimoramento
técnico dos profissionais. Na época, como já sabemos, a psicanálise predominava
esmagadoramente como método de abordagem psicológica do paciente, tanto intra como extra-muros.
Mas não havia uma ruptura, uma quebra na linha de condutas profissionais, como
acabou ocorrendo poucos anos depois.
p |
II Congresso Mineiro de Psiquiatria, Caxambu, 1971. Sessão inaugural: da esquerda para a direita: personagem não conhecido, Antônio Carlos Corrêa (secretário), Fernando Megre Velloso (presidente), prof. Clovis Martins (São Paulo - USP), prof. Nobre de Melo (UFRJ), prof. Luiz Cerqueira (UFRJ). |
Da esquerda para a direita: oficial da PMMG não identificado, prof. Nobre de Melo, prof. Clóvis Martins, Fernando Megre Velloso, prof. Wassily Chuk, do Ceará, Antônio Carlos Corrêa, Sebastião Abrão Salim, José Raimundo Lippi. |
O que ocorreu, em
1971, foi uma fratura dentro do próprio grupo do HGV, motivado por forças
destrutivas decorrentes de vaidades pessoais, competição, luta por poder e
disputa política. Como sempre acontece nas instituições bem sucedidas e formam
uma grande equipe de pessoas com mentes e filosofias de vida diferentes e
distintos propósitos profissionais.
Em 1968, havia sido
criada pelo Governo Israel Pinheiro, a Fundação Estadual de Assistência
Psiquiátrica (FEAP), baseada na Lei 4.953, de 25 de setembro de 1968 e, pelo
Decreto 11.531, de 12 de dezembro de 1968. Era Secretário de Saúde o prof.
Clóvis Salgado da Gama (1906-1978). Essa política de se criar “Fundações”
decorreu das dificuldades enormes de administração de diferentes instituições,
na mesma área, sem uma política unificada, um sistema gerencial único, que
reduzisse os gastos financeiros enormes e pulverizados, e que otimizassem os
recursos materiais e de pessoal que nelas trabalhavam, já que o sistema
anterior passara a se tornar inviável para o estado. Foram diversas as
fundações criadas no período, tanto na área médica quanto em outras áreas da
administração estadual.[5]
Em 1971, a FEAP
estava em crise. Não sei detalhar exatamente em quais setores. Provavelmente
questões de má gestão administrativa, financeira e de recursos humanos. Esse
seria um tema muito interessante para pesquisadores investigarem no futuro.
Nesse período, a maioria dos membros da equipe do HGV, da década de 1960, já
havia deixado o hospital, tanto os diplomados pela residência como os que a ela
antecederam. Todos foram tentando alçar novos voos, lançando-se em novos
projetos, alguns solo, outros formando distintas equipes para atuação em
diferentes instituições, onde a perspectiva de melhor renda financeira e
projeção profissional era um fator real. Houve uma dispersão em massa, uma
verdadeira explosão de uma estrela supernova, que irradiou astros luminosos
para todos os lados da galáxia psiquiátrica mineira e brasileira. Muitos deixaram
o estado em busca de novas oportunidades. A maioria aqui permaneceu, formando
pequenos grupos de atuação em equipes de distintos hospitais, clínicas
particulares, novos empreendimentos e nos consultórios. Novos sonhos, vida
nova. Quase todos se deram muito bem em suas novas funções, em razão da
excelente formação tida em todos esses anos no HGV.
O ano de 1971
começou com uma ferrenha disputa eleitoral pela presidência do Departamento de
Psiquiatria da Associação Médica de Minas Gerais, futura Associação Mineira de
Psiquiatria. No páreo estava César Rodrigues Campos, apoiado por boa parte da
“turma do Galba” e, como adversário político, o prof. Paulo Saraiva, apoiado
maciçamente pelos psiquiatras dos diversos hospitais e clínicas de Minas
Gerais. Sentia-se um temor no ar, um clima de receio de que os discípulos de
Jorge Paprocki assumissem o poder numa entidade de classe que congrega os
colegas de todo o estado e de que tentassem impor seus métodos de trabalhos a
todos. Nos hospitais e clínicas havia muitos profissionais que não adotavam a
psicanálise como sua prática profissional. Venceu, por ampla margem de votos, o
prof. Paulo Saraiva. Iniciava-se aí o racha na psiquiatria mineira que persiste
até os tempos atuais.
Em fins de 1971, Jorge
Paprocki deixou a direção da FEAP, num rompimento com Fernando Megre Velloso,
até hoje não bem esclarecido. No ano seguinte, em 1972, Jorge Paprocki, já
desligado de suas atividades médicas no serviço público, associa-se a Luis
Bustamante e funda o Grupo de Estudos de Psicofarmacologia Clínica.
A partir daí a
divisão entre os psiquiatras mineiros só foi aumentando. De um lado estavam aqueles
que se mantinham dentro de uma linha clínica, em que a tônica dos tratamentos
era a psicofarmacologia e as terapias biológicas, sem, entretanto, deixar de
lado as técnicas psicoterápicas, que variavam muito de um profissional para
outro. Esse grupo mantinha-se atento ao que surgia de mais atualizado no
contexto internacional das pesquisas clínicas e farmacológicas em psiquiatria.
Do outro lado, capitaneados por Francisco Paes Barreto, César Rodrigues Campos,
Ronaldo Simões Coelho e outras lideranças psiquiátricas, jovens residentes,
estudantes, psicólogos e profissionais das mais diversas áreas afins à
psiquiatria, se uniam em torno das teorias antipsiquiátricas de Thomas Szasz,
David Cooper, Ronald Laing, Silvano Arieti, Franco Basaglia e muitos outros.
Esses movimentos se iniciaram nos Estados Unidos no fim da década de 1950,
quando passaram a criticar abertamente a psiquiatria tradicional, com seus
métodos de diagnóstico, tratamento e hospitalizações. A psiquiatria era
comparada aos métodos medievais de tortura e coerção. O diagnóstico era
considerado um rótulo artificial pespegado no paciente a fim de segregá-lo da
sociedade, já que na verdade ele não era um doente mental, mas sim um
dissidente, um pensamento, uma voz e um comportamento dissonantes, que não
estavam em conformidade com as normas sociais. O psiquiatra não passava de um
herdeiro moderno dos velhos inquisidores dos tempos medievais. Nesta amálgama
de teorias acrescentou-se a prática psicanalítica baseada nas teorias de
Jacques Lacan, com toda a sua linguagem hermética, quase impossível de ser
entendida por não iniciados. Uma verdadeira miscelânea de teorias sociais, psicológicas,
psicanalíticas, antimanicomiais, antipsiquiátricas, com forte tempero
ideológico e partidário.
As dissenções foram
evoluindo e chegaram a um ponto decisivo quando, em 1979, ocorreu o III
Congresso Mineiro de Psiquiatria. Fui convidado para a organização do mesmo,
mas declinei em função de minha clara divergência com a ideologia que o
mantinha. A residência de psiquiatria da antiga FEAP, agora Fundação Hospitalar
do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), completara dez anos. Os antigos
preceptores, cuja formação ocorrera no HGV dos anos 60, inclusive este autor, e
outros vindos de outras instituições e com visões diferentes da psiquiatria,
foram deixando a Residência, descontentes com os rumos que a mesma estava
tomando. O congresso, preparado com bastante antecedência, veio ancorado numa
ampla campanha midiática contra os hospitais psiquiátricos e os métodos
tradicionais da clínica psiquiátrica. Havia denúncias de todo tipo: a
eletroconvulsoterapia (ECT) foi escolhida como mote para a denúncia dos “bárbaros
métodos medievais de tortura” de pacientes psiquiátricos, considerados não como
doentes, mas como dissidentes sociais. A psicofarmacoterapia estava a serviço
do grande capital estrangeiro, imposto pelas potências imperialistas
hegemônicas a um país de Terceiro Mundo, como o Brasil, com o fito exclusivo do
lucro exorbitante e o embrutecimento mental daqueles dissidentes sociais que
faziam uso dessas drogas. O objetivo da psiquiatria tradicional seria a criação
de robôs para, assim, permitir mais facilmente o domínio capitalista sobre a
população indefesa. O congresso seria aberto não somente aos profissionais da
área de saúde, mas também aos estudantes das mais diversas áreas, inclusive não
médicas, e ainda ao público em geral, numa forma de “democratizar o saber
psiquiátrico”. Uma série de reportagens intitulada “Nos Porões da Loucura”, e
um filme do cineasta Helvécio Ratton “Em Nome da Razão” contribuíram
enormemente para preparar o terreno ideológico do congresso. Ele teve a
participação de duas das maiores estrelas de primeira grandeza do movimento
antipsiquiátrico internacional, o italiano Franco Basaglia, e o francês Robert
Castel, que deram grande notoriedade ao evento. Numa grande tirada de
marketing, Basaglia foi filmado nos corredores do Instituto Raul Soares,
apontando para as portas de ferro de uma das enfermarias, e denunciando o local
como sendo um grande centro de torturas, de desumanização, de
encarceramento. O impacto junto ao grande público, como não poderia deixar de
ser, foi enorme, dando origem a forte rejeição por parte da população à
psiquiatria tradicional. Começava aí também o Movimento da Luta Antimanicomial,
um movimento feroz de desospitalização, eivado de doutrinação
político-partidária e ideológica.
Tudo isso levou o governo
do estado, através da Secretaria de Saúde e da direção geral da FHEMIG, a
iniciar um Projeto de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Pública. Foi
iniciado no IRS, estendeu-se ao HGV, ao Centro Psicopedagógico (antigo Hospital
de Neuropsiquiatria Infantil) e ao Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena
(antigo Hospital Colônia de Barbacena). Tais medidas, sem dúvida alguma, vieram
humanizar mais o atendimento aos pacientes, adotando uma política mais restrita
de hospitalizações e tempo de permanência no hospital mais curta. Mas é
fundamental se ressaltar que muito antes do surgimento dos movimentos
antimanicomiais e das lutas da antipsiquiatria, já havia uma tendência mundial
progressiva no sentido da desospitalização, pelo simples motivo de que com o avanço
da psicofarmacologia e dos métodos psicoterápicos e socioterápicos o tempo de
permanência dos pacientes em hospitais passou a ficar extremamente reduzido. Na
verdade, desde 1952, após o uso na prática clínica da clorpromazina (Amplictil)
no tratamento de distúrbios psiquiátricos, e, posteriormente, de outros
neurolépticos potentes (típicos), como o haloperidol, flufenazina e
trifluoperazina, as estatísticas da Organização Mundial de Saúde apontavam para
uma progressiva queda nas hospitalizações, queda esta que continua até os dias
atuais, com a utilização de medicamentos de última geração.
Houve, seguramente,
uma melhora na qualidade do atendimento psiquiátrico nas últimas décadas do
século XX. Apenas em pequena parte atribuo isso à luta antimanicomial e às
denúncias da antipsiquiatria, que mais pareciam um espetáculo circense, com
claros vínculos ideológicos e partidários. Já havia um movimento de humanização
da psiquiatria mineira desde a década de 1960 que foi, posteriormente,
acelerado pelos avanços das neurociências na última década do século XX e
nesses 14 anos do século XXI. E os avanços não param de ocorrer, em benefício
sempre da humanização do tratamento e da qualidade de vida do paciente
psiquiátrico. Em que pese a redução de serviços psiquiátricos para o
atendimento da população, fechamento de hospitais e ambulatórios, da carência
de assistência pública na área da saúde mental, surgiram alguns centros de
convivência e pensões protegidas. A redução do número de leitos hospitalares
psiquiátricos se, por um lado, revelou a faceta positiva do avanço da
psicofarmacologia e de novos métodos de tratamento psicossociais, também
revelou seu lado negativo ao expor uma profunda lacuna no atendimento à
população, seja da classe média, seja de classes socialmente menos favorecidas,
quando não foi mais oferecido aos pacientes um local adequado para o tratamento
psiquiátrico com mais segurança. A redução do número de leitos hospitalares foi
uma conquista que, acredito eu, poderia ter sido conquistada sem a histeria
antipsiquiátrica que caracterizou o fim da década de 1970 e a década de 1980,
responsáveis pelo apagamento da psiquiatria mineira frente à psiquiatria desenvolvida
nos demais estados da Federação durante duas décadas. Foram duas décadas de quase
obscurantismo e blackout científicos. Somente agora a
psiquiatria mineira volta a ser iluminada pela consideração e o respeito dos
psiquiatras dos demais estados brasileiros, em função de novos valores
acrescidos ao ensino, pesquisa e prática clínicas, trazidos por uma nova
geração, sem ranços ideológicos, voltada para os estudos das neurociências ao
mesmo tempo em que valoriza as práticas psicoterápicas.
Apesar desse
período negro de nossa história psiquiátrica, houve grandes manifestações
científicas e culturais de nossos psiquiatras, algumas de vulto. Para suprir a
carência de promoção de eventos com questões mais científicas e humanísticas,
os diversos hospitais psiquiátricos, através de seus Centros de Estudos,
promoviam periodicamente palestras, conferências, mesas redondas, painéis e
debates sobre os mais variados temas das áreas da psiquiatria, psicologia e
afins. É de se ressaltar a atuação do Centro de Estudos Cícero Ferreira, da
Casa de Saúde Santa Clara, um dos mais importantes e atuantes do período na
faina de promover a atualização e ampliação de conhecimentos de nossa
categoria. Foram inúmeros os eventos lá promovidos, dos quais tive a honra de
participar em algumas ocasiões, como palestrante ou debatedor, mesmo não
pertencendo ao seu corpo clínico. Seus profissionais eram ávidos de novos
conhecimentos e sempre abertos a receber informações que acrescentassem avanços
para a prática profissional. Durante um bom período estiveram à frente de tais
atividades científico-culturais os Drs. Hélio Tavares Filho e Sylvio Magalhães
Velloso, este herdeiro e continuador da tradição de Galba e Fernando Velloso,
seu avô e pai, respectivamente. No Santa Clara, aliás, fervilhavam as
discussões de novas idéias e novos rumos para a psiquiatria. Era um caldeirão
de cultura.
Não ficava atrás
também o Centro de Estudos Austregésilo de Mendonça, da Casa de Saúde Santa
Maria, onde, da mesma forma, os eventos científico-culturais eram quase
quinzenais. Aí, por diversas vezes, pontificaram os prof. Clóvis de Faria Alvim
(faleceu uma hora antes de proferir nesta Casa mais uma de suas brilhantes
palestras, em 1979) e Paulo Saraiva, uma espécie de membro honorário da casa.
Diversos livros técnicos da área psiquiátrica e psicoterápica foram lançados em
eventos no Santa Maria. Foi ali que tive a honra de ter o lançamento de meu
primeiro livro, Introdução à Psiquiatria Reflexológica – Um estudo da
teoria pavloviana, em 1976. Continuamente o prof. Austregésilo de Mendonça,
uma espécie de mecenas da psiquiatria, reunia em torno de si personalidades da
Academia Mineira de Letras, Academia Mineira de Medicina, Academia de Medicina
do Rio de Janeiro, Associação Médica de Minas Gerais e outras, que nos
brindavam, com seus conhecimentos preclaros e universalistas, com pérolas de
sabedoria. Professores, notadamente da UFMG, PUC, Fumec e outras faculdades,
eram continuamente convidados a falar sobre sua área de atuação ou pesquisas. A
ciência não permaneceu morta nesses anos difíceis.
Merece uma
referência especial o Departamento de Neurologia e Psiquiatria da FMUFMG.
Fundada em 1911, a Faculdade de Medicina teve, durante toda a primeira metade
do século XX, uma destacada atuação no mundo científico psiquiátrico de Minas
Gerais e participou ativamente na elaboração de suas políticas públicas de
saúde mental. Era um centro de referência no ensino e pesquisa da
neuropsiquiatria clássica (organicista) de orientação franco-germânica. Não focarei
neste período que foge ao escopo deste nosso trabalho.[6] A partir de 1963, seu
coordenador era o prof. Hélio Durães Alkmim, que deixara a direção do Hospital
Galba Velloso para assumir este cargo na Faculdade de Medicina.[7] Ele completara sua
especialização em neurologia e psiquiatria na Northwestern University, em
Chicago, EUA, entre 1953 e 1958. Foi íntimo colaborador de Helena Antipoff, na
Fazenda do Rosário, Ibirité, onde se destacou pelas suas excepcionais
habilidades de educador e médico voltado para as questões psicológicas e
sociais das crianças excepcionais. Trabalhara também na 3ª. enfermaria do Instituto
Raul Soares. Participou, em 1959, da fundação da Clínica Nossa Senhora de
Lourdes, quando ofereceu atendimento psiquiátrico “opendoor”, antecipando-se a
Jorge Paprocki, no Hospital Galba Velloso, em 4 anos. Conheci o prof. Hélio
Alkmin, em 1964, quando, ainda calouro na Faculdade de Medicina, eu e alguns
colegas de turma já havíamos nos decidido pela psiquiatria como especialidade
médica. Assistíamos às aulas do 5º. ano como “intrusos”, no 7º. Andar do
Hospital das Clínicas. Uma dessas aulas tornou-se memorável, entrando para os
anais do HC-UFMG, quando ele surpreendeu a todos, inclusive seus colegas de
magistério, que de nada sabiam, com a encenação de um verdadeiro psicodrama, ao
convidar o prof. Jairo Bernardes, recém-chegado de uma pós-graduação nos
Estados Unidos, para ministrar uma aula sobre ansiedade no tempo predeterminado
de 10 minutos. Não é preciso imaginar muito para se perceber que, em 10
minutos, é impossível alguém dar uma aula minimamente razoável sobre ansiedade.
A emoção ansiosa gerada em todos pelos atropelos verbais do professor, obrigado
a falar numa rapidez tal e usando de uma síntese constrangedora, que a
temperatura subiu na plateia, gerando discussões acaloradas ao seu término.
Depois de algum tempo é que o ilustre professor Alkmin relatou uma experiência
real e ao vivo do que é ansiedade, aprendida por todos sob a forma de
psicodrama. Hélio Alkmim cercava-se de excelentes professores-assistentes, dentre
os quais posso assinalar o já citado Jairo Bernardes, falecido precocemente de
acidente automobilístico poucos anos depois, Sebastião Abrão Salim, Evandro
Negrão de Lima e José Carlos Câmara. A tônica da disciplina de psiquiatria da
FMUFMG era uma psiquiatria dinâmica, baseada em conceitos da escola
culturalista norte-americana, predominante nas décadas de 1950/60, com forte
influência da psicanálise, particularmente de Harry Stack Sulivan, Karen
Horney, Erich Fromm, Clara Thompson, Frieda Fromm-Reichman e ainda da
antropologia cultural de Margaret Mead, Ruth Benedict e do renomado
neuropsiquiatra Willian Allanson White.[8] Parte dessa equipe
permaneceu no departamento até meados da década de 1980.
Além de mencionar a
atuação de entidades e hospitais mineiros, cumpre destacar a atuação de alguns
profissionais durante este período. Dentre eles, cito o trabalho ingente e
profícuo do prof. José Raimundo da Silva Lippi, desde a década de 1970 até a os
dias de hoje. Ao lado de José Carlos Pires Amarante, falecido precocemente em
1970, de acidente automobilístico, Lippi foi um dos fundadores da psiquiatria infantil
em Minas Gerais. Destacou-se tanto em nosso estado como em todo o Brasil. Foi
um dos organizadores e um dos primeiros presidentes da Associação Brasileira de
Neuro-Psiquiatria Infantil (ABENEPI). Foi diretor do Hospital de Neuro-Psiquiatria
Infantil e contribuiu na formação e organização de diversas entidades e
instituições psiquiátricas voltadas para o atendimento da infância e
adolescência. Até o presente momento, tem Lippi formado sucessivas gerações de
psiquiatras da infância e adolescência, todos de grande competência
profissional e ilibada conduta ética. Dentre eles, deve-se ressaltar os
seguintes: Lélio Marcio Dias, José Carlos Luz Martins, Marcia Veiga Lima, Maria
Goretti Penna Lamounier, Walter Camargos, Marcio Candiani e outros. Ele é
merecedor de toda a consideração o respeito de seus pares.
A partir do final
da década de 1970, observou-se uma tendência, entre os profissionais mais
experientes e talentosos, a adoção de uma prática clínica e psicoterápica mais
eclética, não subserviente aos parâmetros rígidos das escolas e teorias, onde a
personalidade, a boa formação teórica e prática do terapeuta, sua experiência e
bom senso, lhes permitiam realizar um trabalho proficiente e respeitado.[9]
Um desses nomes foi indiscutivelmente
o de Nasser Zacharias Alves. Graduado em medicina pela FMUFMG, em 1963,
possuidor de vasta cultura médica e geral, falando fluentemente o alemão,
Nasser manteve contatos na Alemanha, para onde logo se mudou. Doutorou-se em
medicina na Universidade de Heidelberg e também em neurociências e
comportamento nas Universidades de Lausanne e Basiléia, na Suíça. Tornou-se
amigo de Kurt Schneider, com quem mantinha permanente correspondência, quando
voltou ao Brasil. Em Belo Horizonte manteve, durante anos, seu consultório
particular bastante concorrido, por sinal. Profundo conhecedor das obras da
fenomenologia alemã de Kurt Schneider e Karl Jaspers, do suíço Jacob Wyrsch e do
espanhol Juan José López Ibor, ele era também psicoterapeuta eclético, quando
utilizava técnicas e teorias que julgava úteis para cada paciente. Não era
seguidor de nenhuma escola em particular, mas se baseava nos conceitos médicos
até então conhecidos, aliados aos seus conhecimentos das distintas técnicas
psicoterápicas então utilizadas. Como fosse profundamente católico, tinha
também laços intelectuais e espirituais com o filósofo, teólogo e padre ítalo-germânico
Romano Guardini (1885-1968), de grande influência nos meios cristãos e
intelectuais de então. Nasser Zacharias Alves influenciou um grande número de
psiquiatras mineiros, até hoje atuantes em clínicas e instituições de nosso
estado. Faleceu ele, precocemente, aos 47 anos, em 1986, em Campinas, para onde
se mudara, após mais uma estada na Alemanha.
Teve grande
notoriedade na psiquiatria de Belo Horizonte, no final da década de 1960 e na
de 1970, o prof. Santiago Americano Freire, professor titular de farmacologia e
terapêutica experimental na FMUFMG, como já assinalei no início deste texto.
Muito interessado pelo estudo da mente, Santiago teve consultório particular
com vasta clientela em Belo Horizonte. Muito interessado por artes, e também um
estudioso no tema, escreveu um livro sobre a filosofia matemática nas pinturas
de Leonardo da Vinci, obra de rara beleza estética. Publicou também alguns
livros na área psiquiátrica ressaltando-se uma técnica própria de enfoque à
psicoterapia, intitulado Neurosanálise,
impresso em 1977.
Não se pode descrever
a história da psiquiatria em Minas Gerais sem um levantamento histórico da
relação entre a psiquiatria e a psicanálise entre nós. Um dos pioneiros da
psicanálise em Minas é Sebastião Abrão Salim. Logo após se graduar em medicina
pela UFMG, em 1963, e se tornar professor no Departamento de Psiquiatria e
Neurologia da FMUFMG, no ano seguinte Salim interessou-se em fazer sua análise
pessoal, segundo o modelo da IPA (International Psychoanalytic Society), de
orientação freudiana e herdeira da sociedade fundada por Freud e vários de seus
discípulos, em 1910. Não encontrando em Minas Gerais profissionais qualificados
para a prática deste modelo psicanalítico, Salim submeteu-se a análise com
psicanalistas do Rio de Janeiro e São Paulo durante anos, ao mesmo tempo em que
ministrava aulas de psicoterapia analítica no Departamento de Neurologia e
Psiquiatria da FMUFMG. Completou sua formação como psicanalista, pela Sociedade
Psicanalítica do Rio de Janeiro, em 1989, quando se tornou membro associado da
mesma. Trabalhou muito para criar em Minas um núcleo de estudos psicanalíticos,
já que não havia suficientes profissionais para a criação de uma sociedade
psicanalítica. Após trinta anos de trabalho ingente, Salim e um grupo de
psicanalistas, dentre os quais se destacam os psiquiatras Sergio Khedy e Flávio
José de Lima Neves, conseguiram oficializar o Núcleo Psicanalítico de Belo
Horizonte, sob a coordenação da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro,
filiada à IPA, em 1993. Alguns anos mais tarde, em 2008, o grupo foi admitido
como “Study Group” da IPA, com a denominação de Grupo de Estudos Psicanalíticos
de Minas Gerais (GEPMG), com a supervisão direta da entidade internacional.
Este dinâmico grupo permanece atuante e se mantem publicando trabalhos sobre
psicanálise e envolvido na formação de novos membros. [10]
Outra importante
vertente da psicanálise, com profundas ramificações na psiquiatria, originou-se,
em 1963, com a vinda para Belo Horizonte de Malomar Lund Edelweiss, sacerdote e
profundo interessado por psicanálise. Este viera de Pelotas, onde havia sido
diretor da Faculdade de Filosofia, quando fundou o Círculo Brasileiro de
Psicanálise (CBP), em 1956. Malomar havia se submetido a análise com Igor
Caruso, em Viena, na primeira metade da década de 1950. Igor Caruso era um
italiano que emigrara para a Rússia e, depois, para Viena, Áustria, antes da II
Guerra Mundial, onde havia se submetido a análise com August Aichhorn, em 1943.
Este era um discípulo e próximo de Freud. Malomar, no período de 1944/45,
também havia se submetido a análise com Viktor von Gebsattel, importante nome
da psiquiatria e psicanálise alemãs, expoente da fenomenologia
genético-estrutural. Gebsattel, por sua vez, havia sido analisado por Paul
Federn, da primeira geração de psicanalistas surgida com Freud. A convite de
Malomar, Igor Caruso veio diversas vezes ao Brasil, contribuindo para a
expansão de sua orientação teórica em nosso País.
Igor Caruso, além de
prolífico escritor, desenvolveu um conceito teórico eclético no qual procurava
conciliar a psicanálise com outras correntes do pensamento e com a religião
cristã. Fundou uma sociedade psicanalítica em Viena, dissidente da IPA, que
abrigava pessoas de variadas orientações como a psicologia analítica e
existencial, psicologia genética, etologia, antropologia, filosofia e outras
áreas, que compunham um todo eclético variado. Mais tarde, aproximou-se das
teorias de autores da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Fromm, Marcuse,
Ernest Bloch, Norman Brown, Sartre). Também fez uma ponte entre Sigmund Freud e
as ideias de Marx, Engels, Lukács, Reich, Gabel, Gorz e outros marxistas, aproximando-se,
assim, do materialismo dialético e se distanciando da religião cristã. A
sociedade criada por ele em Viena recebeu o nome de Círculo Vienense de
Psicologia Profunda. Quando Malomar fundou sua primeira sociedade psicanalítica
no Brasil, em Belo Horizonte, ela recebeu o nome de Círculo Brasileiro de
Psicologia Profunda de Minas Gerais, com a colaboração de seus analisandos. Posteriormente,
este grupo se filiou à Sociedade Brasileira de Psicologia Profunda. Em 1966, foi
criada a Federação Internacional de Círculos de Psicologia Profunda. Em 1970, o
Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda passou a se chamar Círculo Brasileiro
de Psicanálise, com filiadas em diversos estados, incluindo o Círculo
Psicanalítico de Minas Gerais.[11]
Inicialmente, os psiquiatras
mineiros opuseram grande resistência ao trabalho de Malomar Lund Edelweiss em
Belo Horizonte. Isso em decorrência do fato de não ser o Círculo de Psicologia
Profunda filiado à IPA. Esta sempre fora uma entidade extremamente rígida, que
mantinha suas orientações freudianas dentro de princípios rigorosos. Com o
passar do tempo, diversos psiquiatras e médicos de outras especialidades se
interessaram em submeter-se à análise pessoal e, mais tarde, fazer formação em
psicanálise. O primeiro grupo em formação era composto por: Djalma Teixeira de
Oliveira, Jarbas Moacir Portela, Elba Duque, Eunice Rangel, Célio Garcia, Antônio
Ribeiro e Jorge Paprocki. O Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda,
posteriormente Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, teve uma atividade
paralela com a do Hospital Galba Velloso. Jorge Paprocki, sendo um dos
analisandos em formação com Malomar, foi um dos que mais incentivava o grupo do
hospital a fazer sua formação psicanalítica. Em sucessivos períodos, novas
turmas de analisandos foram se incorporando à instituição, englobando algumas
gerações de psicanalistas mineiros. Em seus 51 anos de vida, conta o Círculo
hoje com um enorme grupo de afiliados que torna a instituição uma das mais
tradicionais e respeitadas no Estado. [12]
Entretanto, no início da década de 1970, a
estrutura burocrática do Círculo foi se aproximando daquela do IPA, na qual
somente os analistas didatas poderiam se candidatar ao cargo de presidente e
submeter candidatos às sessões de análises formais. Os sócios estavam
insatisfeitos com a concentração de poderes nas mãos de Malomar e do grupo próximo
de analistas didatas, todos pertencentes ao primeiro grupo formado, já citado
acima. A esta altura o Círculo já contava com um considerável número de
profissionais afiliados, psiquiatras e psicólogos. Havia uma clara demanda por
democratização das decisões e mudança das normas para que temas não diretamente
ligados à teoria freudiana pudessem ser apresentados e debatidos, e para que as
eleições para cargos da diretoria incluíssem não-didatas. Essas reivindicações
somente foram concretizadas na década de 1980, quando o poder de Malomar e dos
membros didatas foi distribuído de forma mais democrática. Coincidia esse
período com a redemocratização do País, que encerrava gradativamente um longo
período de ditadura militar e ausência de liberdades democráticas nas
instituições brasileiras. Desde essa época, o Círculo não exige mais das
pessoas interessadas em se submeter a sua análise pessoal, e ter sua formação
psicanalítica, que sejam psiquiatras ou psicólogos. Diversos profissionais da
área de saúde, humanas ou outras, puderam, assim, ser admitidos para análise e,
caso cumprissem as metas exigidas, assumir o título de psicanalistas.
Mais ou menos por
essa época, outra dissidência surgiu no seio do Círculo, desta vez em
decorrência das idéias de Jacques Lacan que passaram a contar com um número
considerável de adeptos. Houve uma releitura das teses freudianas segundo o
diapasão da linguística de Saussure, de Jakobson e Benveniste, da antropologia
estrutural, de Lévi-Strauss. Ocorreu um verdadeiro cataclisma nas hostes
psicanalíticas e psiquiátricas em Minas Gerais. Seu mentor, inicialmente, foi
Célio Garcia, psicólogo, professor da UFMG, que havia tido contato antes com Lacan,
em Paris. Logo foi seguido pelos psiquiatras Francisco Paes Barreto, Celso
Rennó de Lima, Antônio Aureo Benetti e muitos outros. O espaço teórico do
Círculo era pequeno para agrupar a todos. O rompimento foi inevitável. Surgiram
grupos como Escola do Campo Freudiano, Instituto de Psicanálise e Saúde Mental
de Minas Gerais, Aleph, Campo Lacaniano e outros. Todos permanecem atuantes,
notadamente com a promoção de fóruns de debates, cursos e atividades de ensino.
Uma vertente
importante da psicanálise em Minas Gerais é a da escola de Carl Gustav Jung.
Discípulo da primeira geração de Freud, Jung tem deixado traço marcante na
psiquiatria mineira. Um dos expoentes seguidores desta escola, há mais de 40
anos, é o psiquiatra José James de Castro Barros. Sua dedicação à prática da
análise junguiana e formação de terapeutas da psicologia analítica é bem
conhecida por todos. É membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia
Analítica e membro da International Society for Analytical Psychology. Na
década de 1970, o psiquiatra Carlos Alberto Corrêa Salles morou por vários anos
na Suíça onde fez sua análise pessoal e formação analítica no Carl Gustav
Jung-Institut Zürich. Ao retornar ao Brasil, na década de 1980, já como
analista didata, foi o fundador do Instituto
C.G. Jung de Minas Gerais, tendo sido também um dos fundadores da Associação
Junguiana do Brasil, reconhecida pela Associação Internacional. É autor de diversos
livros de importância na área e co-autor de outros tantos. O psiquiatra Alberto
André Delpino de Mendonça é também analista didata junguiano bastante atuante
em Belo Horizonte.
Finalmente, uma das importantes vertentes da psicanálise em
Minas Gerais foi introduzida por Marcio Vasconcelos Pinheiro, em 1974. Ele
fazia clínica médica em Baltimore, Maryland, Estados Unidos, onde residia desde
1959, quando decidiu abraçar a especialidade da psiquiatria. Recebeu supervisão
do prof. Eugene Brody durante seu período de residência no Instituto de
Psiquiatria da Universidade de Maryland. Na ocasião, defrontou-se com uma
psiquiatria fortemente influenciada pela psicanálise de orientação
culturalista, dentro da linha de Harry Stack Sulivan e Frieda-Fromm Reichmann,
como visto anteriormente. Trabalhou por 13 anos em hospitais psiquiátricos,
clínicas particulares e consultório, atendendo a todos os tipos de pacientes
psiquiátricos. Os pacientes, incluindo os psicóticos, recebiam atendimento
psicanalítico clássico, submetendo-se a várias sessões de análise por semana,
dentro de um ambiente de comunidade terapêutica, além de técnicas de
socioterapia, ambientoterapia, grupoterapia, como de praxe na época. A
psicofarmacologia era praticamente ignorada e considerada uma “evidência de
psicoterapia não bem feita”. Nas
palavras do próprio Marcio Pinheiro, “acreditava-se que, para fazer
psicoterapia com esquizofrênicos, por exemplo, os melhores terapeutas eram os
que estavam próximos à desordem, com uma sensibilidade especial, de preferência
uma esquizoidia criativa”.[13]
Essa orientação perdurou por vários anos, quando, em determinada ocasião, após
tratar uma paciente esquizofrênica por quase um ano, sem resultados, ele
repassou o caso para um colega que imediatamente prescreveu Stelazine. A
melhora da paciente foi rápida e surpreendente. Marcio Pinheiro percebeu, na
ocasião, que a psiquiatria americana passava por fortes mudanças. Da influência
psicodinâmica ela abraçava abertamente uma psiquiatria cada vez mais biológica,
com um aumento considerável na prescrição de psicofármacos. Quando voltou para
Belo Horizonte, em 1974, Marcio Pinheiro, associado a alguns colegas, fundaram
o Centro Psicoterapêutico, no bairro do Carmo, instituição modelada pela
psiquiatria psicodinâmica norte-americana. Havia uma unidade de internamento e
um hospital-dia. O sucesso de seu trabalho foi imediato e uma leva de
sucessivos estagiários por lá passou, recebendo sua influência teórica e
prática. Ao mesmo tempo, ele observava que em Minas Gerais ocorria o contrário
dos Estados Unidos: enquanto lá a psicanálise reduzia, cada vez mais, sua
influência sobre a psiquiatria, aqui ocorria justamente o contrário. Observou que a velha neuropsiquiatria, de
base marcadamente biológica, que ele conhecera antes de se mudar para a América
do Norte, sofrera um forte refluxo dando amplo espaço para a influência
psicanalítica. Só muito mais tarde, constatou ele, a psiquiatria em Minas
Gerais começou uma lenta e progressiva marcha em uma direção mais biológica, já
influenciada pelas neurociências. Marcio de Vasconcelos Pinheiro marcou época
em nossa psiquiatria deixando um exemplo de trabalho que foi seguido por vários
de seus discípulos, entre eles Zuleide Abijaodi e Hélio Lauar de Barros que,
mais tarde, fundaram a Central Psíquica, uma unidade de atendimento nos moldes
que ele trouxera dos Estados Unidos.
Pode-se destacar também que a psiquiatria biológica teve suas
primeiras manifestações em Minas Gerais no início da década de 1980. Delcir Antônio
da Costa, em associação a psiquiatras de Minas e de outros estados, fundou a
Associação Brasileira de Psiquiatria Biológica, em 1983, no modelo da Federação
Internacional de Psiquiatria Biológica, que havia sido criada durante congresso
internacional, em Buenos Aires, em 1974. Desde então, passaram a promover encontros
e congressos nos quais a temática biológica era a tônica. Pouco depois, iniciaram
a publicação da Revista Brasileira de Psiquiatria Biológica, que contribuiu
sobremaneira para a divulgação desta orientação psiquiátrica no Brasil.
Com o avanço
progressivo das neurociências, uma área científica ainda pouco conhecida e
divulgada em Minas Gerais, uma nova geração de psiquiatras, surgida nas décadas
de 1970 e 1980, se destacou ao injetar sangue novo no ambiente psiquiátrico. Dentre
eles, posso citar Maurício Viotti Daker, Dirceu Campos Valadares, Almir Tavares,
Fábio Lopes Rocha, Juarez de Oliveira Castro, Gustavo Julião de Souza, Fábio
Munhoz, Ronan Rego, Maria Goretti Lamounier, Maria Cristina Palhares, Gislene
Valadares. Todos, e muitos mais, mantiveram acesa a chama do conhecimento científico
na psiquiatria. Fábio Lopes Rocha teve uma esmerada formação em psiquiatria e
psicopatologia, além de desenvolver pesquisas em psicofarmacologia com Jorge
Paprocki e logo se tornaria uma das estrelas mais fulgurantes de nosso universo
mineiro. Tornou-se também figura importante na psiquiatria brasileira.
No início da década
de 1990, Maurício Viotti Daker, já professor no Departamento de Psiquiatria da
Faculdade de Medicina da UFMG, criou uma das promoções científicas que
considero mais importantes entre nós. Foram os Sábados de Formação
Continuada, um dos eventos mais prolíficos e duradouros de nossa história
científica e cultural na psiquiatria. Eram apresentações aos sábados pela
manhã, que costumavam entrar pela tarde, tal o interesse que despertados pelos
mais diversos temas. Eram convidados como palestrantes luminares da psiquiatria
nacional. Começou a ser introduzido entre nós o conceito de "medicina
baseada em evidências", hoje um dos pilares da medicina contemporânea e,
como consequência, da psiquiatria. Foi um sucesso duradouro que terminou
lamentavelmente na década seguinte.
Por volta de 1989,
os psiquiatras de orientação clínico-científica, quando as neurociências, já em
pleno voo de seu desenvolvimento, sem espaço para se aglutinar e se manifestar
em torno de uma associação que os representasse, já que a Associação Mineira de
Psiquiatria, impregnada de manifestações ideológicas e partidárias, decidiram
criar uma nova entidade. Depois de inúmeros encontros e debates, foi criada
a Sociedade de Psiquiatria do Estado de Minas Gerais (SPEMGE),
cujo primeiro presidente foi Sylvio Magalhães Velloso. Esta entidade teve uma
vida curta, porém intensa e produtiva. Dentre alguns de seus eventos mais
marcantes destacou-se a promoção da vinda a Belo Horizonte do prof. Francisco
Alonso-Fernandez para dar um curso sobre depressão. Aceito o convite, o prof.
Alonso-Fernandez, um mito na história da psiquiatria mundial, nos brindou com
três dias de brilho e ciência humanística, com seu saber universalista e
enciclopédico. Foi uma convivência riquíssima para todos que, tiveram o
privilégio de compartilhar de algumas horas com esse luminar, hoje aposentado,
mas no panteão da glória da psiquiatria universal. Deixou-nos o original
de uma de suas obras: La Depresión y su Diagnóstico – Nuevo modelo
clínico, da Editorial Labor S.A., de Barcelona, publicado em 1988.
Outro evento
marcante, promovido pela SPEMGE, foi o I Simpósio Brasileiro sobre
Personalidade, ocorrido no Instituto Hilton Rocha, em 1989. Organizado por
Dirceu de Campos Valadares Neto, com a participação ativa de Maurício Viotti
Daker, este foi outro evento de cunho internacional, quando compareceu o
mundialmente renomado cientista norte-americano, especializado no estudo sobre
a personalidade, Robert Cloninger. Sua estada foi muito rica e o simpósio um
retumbante sucesso. Tanto que, pouco depois, Dirceu Valadares organizou um
livro, com a participação de diversos colaboradores ilustres, intitulado As
Várias Faces da Personalidade, pela Libru Editora, em 1991. A obra fez tanto
sucesso que teve sua edição rapidamente esgotada.
Nas décadas de 1980
e 1990 e na primeira do século XXI, diversos psiquiatras mineiros tiveram
trabalhos seus publicados em revistas científicas nacionais e internacionais,
enriquecendo nossa psiquiatria com resultados de pesquisas de grande
importância clínica. A bibliografia é extensa e os interessados podem consultar
o site sobre este tema do psicólogo Walmor J. Piccinini (que participou da
equipe do HGV, no fim dos anos 60), já citado. Destacam-se os trabalhos de
Jorge Paprocki, Fábio Lopes Rocha, José Raimundo da Silva Lippi, Joaquim
Affonso Moretzsohn, Sylvio Magalhães Velloso, Almir Tavares, Uriel
Heckert, Antônio Carlos de Oliveira Corrêa, Luiz Carlos Calil, Marco Aurélio
Baggio, Hilbene Galizzi, Delcir Antônio da Costa, Marcio Pinheiro, André
Stroppa, Fernando Madalena Volpe, Antônio Lúcio Teixeira Jr., Humberto Corrêa,
Maurício Viotti Daker, Rodrigo Nicolato e tantos outros que citá-los tornaria
este texto extremamente enfadonho. É uma prova evidente de que, apesar de tudo,
a psiquiatria mineira nunca faltou com seu dever, mantendo-se em plena
atividade e dentro da tradição de ser uma das mais importantes do País.
Um capítulo
especial deveria ser dedicado à história das residências de psiquiatria em
Minas Gerais, particularmente em Belo Horizonte. Não o faremos com detalhes em
função do espaço na web. A primeira residência, como já apontamos, foi a da
FEAP-Fac. de Ciências Médicas, no Hospital Galba Velloso, que funcionou de 1968
a 1971. Em seguida, ela foi transferida para o Instituto Raul Soares, onde
funciona até os dias atuais. No IRS, nos seus primeiros anos, eu diria que até
por volta de 1977/78, constituiu-se ela no principal centro de formação de
psiquiatras de Minas Gerais. Sua orientação médica era excelente e contava com
a presença de preceptores das mais variadas tendências do pensamento
psiquiátrico da época. Não havia radicalismo teórico e todas as correntes
psiquiátricas eram muito bem representadas. Foi, durante alguns anos, coordenada
por Sylvio Magalhães Velloso, que imprimiu em sua gestão acadêmica impulso
dinâmico e eclético, dada sua formação no Instituto de Psiquiatria da Praia
Vermelha, isto é, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, dirigida pelo prof.
José Leme Lopes, talvez o psiquiatra mais importante do Brasil naqueles tempos.
Sylvio Velloso contava com uma equipe dedicada de preceptores que incluíam
nomes consagrados da psiquiatria mineira, tais como Ivan Ribeiro, José James de
Castro Barros, Newton Figueiredo, Geraldo Megre de Resende, Mário Catão
Guimarães e Ataulpho da Costa Ribeiro, que, apesar de terem realizado seu
trabalho de supervisão de residentes por pouco tempo, deixaram a marca de sua
sabedoria, ciência, seriedade e ética. A residência também contou com jovens
psiquiatras, oriundos do HGV, tais como Rodrigo Teixeira de Salles, Vicente
Santos Dias, José Ronaldo Procópio, Francisco Paes Barreto, César Rodrigues
Campos, Maria Muniz Passos, o autor deste texto e muitos outros. Além do
próprio coordenador Sylvio Velloso também dar suas supervisões na disciplina de
Psicopatologia. Memoráveis aulas e palestras aconteceram nesse período,
proferidas por profissionais do IRS e oriundos de outras entidades, que
marcaram a história do período. À medida que novos residentes foram se
graduando no IRS, muitos deles, interessados na carreira acadêmica, se tornaram
também preceptores. Tal é o caso de Gustavo Julião de Sousa, Maria Goretti
Penna Lamounier, Antônio Áureo Benetti, Zuleide Abijaodi, Gislene Valadares e
outros. A estes ilustres e caros colegas peço minhas desculpas pela omissão de
seus nomes.
Os tempos foram
mudando rapidamente e, até meados da década de 1970, a ideologia
predominante na residência foi se assentando na temática psicanalítica
lacaniana e nos princípios da antipsiquiatria. Praticamente todos os
preceptores foram deixando suas funções, à exceção de Francisco Paes Barreto e
César Rodrigues Campos. A residência passou a contar também com a colaboração
efetiva de Ronaldo Simões Coelho. Barreto assumiu a coordenação da residência,
se não me falha a memória, por volta de 1978, imprimindo, a partir daí, um
forte vínculo lacaniano e antipsiquiátrico à mesma. Com isso, por quase duas
décadas essa foi a tônica da residência do IRS que, se por um lado atraia uma leva
de jovens recém-formados, tangidos pelos ares de liberdade conquistados
progressivamente com a abertura política do País, e adotando princípios um
tanto revolucionários para a psiquiatria, apesar de equivocados, por outro lado
inúmeros outros jovens que almejavam uma formação psiquiátrica calcada nos
princípios da ciência médica, da clínica psiquiátrica clássica, da
psicopatologia, da psicofarmacologia, das diversas tendências das terapêuticas
psicoterápicas, se viram sem espaço.
A solução foi a
formação de grandes grupos de estudos, em torno de hospitais tais como o Santa
Clara, Santa Maria e Pinel, onde se criaram residências médicas em psiquiatria,
se não formais, pelo menos com seriedade e competência. Inúmeros psiquiatras
tiveram sua formação nesses grupos, onde se recebia uma instrução
psiquiátrica esmerada. A residência do IRS passou por inúmeras turbulências
políticas no decorrer das décadas de 1980 e 1990. Entre outros, foram seus
coordenadores o prof. Hélio Durães Alkmin, que realizou uma profícua gestão, ao
amenizar os impulsos de radicalismo e ao fazer uma leve abertura para dar aos
residentes uma chance de manter contato com a medicina e a psiquiatria clínica.
Durante alguns anos a residência foi coordenada por Hélio Lauar de Barros, que
manteve a orientação lacaniana, porém menos antipsiquiátrica. Gradualmente, a residência
do IRS foi sofrendo transformações, se modernizando e se atualizando na área
científica, o que a fez retornar aos trilhos da medicina e da psiquiatria
clássicas. Hoje, grande número de psiquiatras com formação em neurociências e
em diversas tendências psicoterápicas atuais compõem o seu corpo de
preceptores, fazendo com que a residência esteja retornando aos seus tempos de
glória.
Em função da lacuna
no ensino da psiquiatria durante todo este tempo, em fins da década de 1980,
outras residências nasceram em instituições oficiais. Foi o caso da residência
de psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG, que nasceu graças aos esforços
de Juarez de Oliveira Castro, Maurício Viotti Daker, Almir Tavares Júnior e
outros. Rapidamente ela se desenvolveu e passou a contar com um corpo de
preceptores que acumulava grande e rica experiência no ensino e na clínica.
Entre os anos de 1986 e 2006, isto é, num período de 20 anos, esta residência
contou com a participação dos seguintes preceptores: Adauto Silva
Clemente, Adelaide Ubaldino Duarte, Almir Ribeiro Tavares Jr., Antônio Carlos
de Oliveira Correa, Fábio Lopes Rocha, Gislene Cristina Valadares, Guilherme
Silva Bastos, Gustavo Fernando Julião de Souza, Hélio Lauar de Barros, Hugo
Alejandro Cano Prais, José Soares Mól Filho, Jussara Alvarenga de Mendonça,
Karla Maria Barbosa Miranda, Lécio Marques Dias, Lúcio de Guimarães Mourão,
Maria Goretti Pena Lamounier, Maria Tereza Lanna de Oliveira, Magda Maria
Campos Pires, Marluce Maria de Godoy e Silva, Rodrigo Nicolato, Ronan Rego,
Samir Melki, Sandra Maria Carvalhais, Sérgio Kehdy, Sérgio Martins, Tatiana
Tscherbakowski de Guimarães Mourão. O prof. José Raimundo Lippi também
colaborou ativamente para o desenvolvimento do ensino da psiquiatria infantil,
ao lado de Maria Goretti Lamounier, nesta residência. A supervisão clínica em
enfermaria ocorria no HGV e também no IRS.
A partir de meados
da década de 1980, já se observava nitidamente o envelhecimento de nossa
população. Cada vez mais, nos consultórios, ambulatórios e hospitais, eram
atendidas pessoas com mais de 60 anos, quando se inicia a Terceira Idade no
Brasil. Até então, estávamos inteiramente despreparados para o atendimento
psiquiátrico desse público. No final da década de 1980, Almir Tavares Júnior, do
Departamento de Neurologia e Psiquiatria da FMUFMG, esteve acompanhando, por
longo período, os serviços de psiquiatria geriátrica da Universidade Johns
Hopkins e National Institute on Aging, em Bethesda, Maryland, Estados Unidos da
América. Ao voltar, introduziu na FMUFMG os primeiros estudos sobre
gerontologia e psicogeriatria. Ao mesmo tempo, divulgava com palestras e
trabalhos científicos seus conhecimentos. Concluído seu doutorado pela UNIFESP,
fez pós-doutorado na Universidade Johns Hopkins. Continua participando
ativamente de eventos, congressos, pesquisas e publicações nesta área. Dentre
estas, sobressai-se seu Compêndio de
Neuropsiquiatria Geriátrica, publicado em 2005.
Tive a honra de
participar na organização do setor de psiquiatria geriátrica, na residência de
psiquiatria do HC-UFMG. Era a primeira vez no estado de Minas Gerais, que tal
serviço tinha início. Em 1997, também participei da fundação do Núcleo de
Estudos em Geriatria e Gerontologia, coordenado pelo prof. Anielo Greco, do
Departamento de Clínica Médica, onde também participavam ativamente os profs.
Edgar Nunes de Moraes e Marília Campos Abreu Marino, pela Geriatria e Almir
Tavares Júnior, pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
UFMG. Pouco depois, foi fundado o Centro de Referência do Idoso prof.
Caio Benjamin Dias, do HC-UFMG. Este se incorporou ao Instituto Jenny de
Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso, que funciona em moderna sede, ao
lado do Hospital Bias Fortes. Tornou-se um centro de referência de renome
nacional e internacional. É dirigido pelo prof. Edgar Nunes de Moraes, em um
trabalho muito próximo ao serviço de Neurologia Cognitiva, este fundado e
dirigido pelo pesquisador, oriundo da USP, prof. Paulo Caramelli, e com a
residência de psiquiatria do HC-UFMG, que foi coordenada pelo prof. Rodrigo
Nicolato.
A residência de psiquiatria
do HC-UFMG, desde o seu início, tem formado novas gerações de psiquiatras de
elevado gabarito, dentro da formação em neurociências e da medicina baseada em
evidências. Os residentes também recebem algum treinamento em psicoterapia
analítica freudiana e na terapia cognitivo-comportamental. Esta residência tem
formado uma plêiade de novos psiquiatras, que impulsionam a psiquiatria
mineira, colocando-a no nível do Rio de Janeiro, São Paulo ou Porto Alegre.
Aqui estão relacionados todos os residentes do HC-UFMG no período 1986-2006: 1986 - Adão Edson Dayrell, Angélica Braga Stheling Portela, Antônio Márcio Morelli, Fátima Sueli Cioffi de Oliveira. 1987 - Márcia Teixeira de Freitas, Oswaldo França Neto, Roseane Barros Petrucci Falcão, Saulo Cançado Magalhães Ribeiro, Watson Helvécio Freitas de Queiroz, Sérvulo Santos de Oliveira. 1988 - Cláudia Regina Faria Felicíssimo, Emerson Ribeiro dos Santos, Glauco Correa de Araújo, Sotírios Theophane Pegos, Simone Cláudia Facuri Lopes, Paulo José Teixeira. 1989 - Juliana Rodrigues Cunha Teixeira, Humberto Figueiredo do Nascimento, Karla Vanessa Souza Soares, Luisa de Marillac Nilo Terroni, Luzmarina Morelo. 1990 - Frederico Martins Machado, Denilson Cavalcante Pinto, Marcelo Quintão e Silva, Patrícia Costa de Amorim. 1991 - Ana Paula Souto Melo, Carlos Reif Miranda, Fernando Casula Ribeiro Pereira. 1992 - Adriana Braga de Andrade, Eva Missine. 1993 - Humberto Correa da Silva, Maria Flávia de Mourão, Sérgio Caffaro Almeida. 1994 - Adriane Rooke Ribeiro, Fernando Madalena Volpe, Heloisa Andrade Maestrini, Junea Luiza Rodrigues de Paula Chiari. 1995 - Ana Cristina Bittencourt Fonseca, Frederico Porto Fonseca Theodoro, Jussara Mendonça Alvarenga. 1996 - Anna Karla Rocha Santanna, Carmelita Magalhães Nunes, Cíntia Satiko Fuzikawa, Flávia Fernandes Dias, João Luiz Pinto Coelho, Rodrigo Nicolato. 1997 - Érico de Castro e Costa, Fernando José Loureiro, Luis José de Lima, Sérgio de Figueiredo Rocha. 1998 - Antônio Lúcio Teixeira Jr., Fabiano Gonçalves Nery, Henrique Alvarenga da Silva, Rodrigo Barreto Huguet. 1999 - Adriana Camello Teixeira, Fátima Darlene Martins Rocha Guilherme Assumpção Dias, Luciana Vale Cipriano, Silas Prado Souza, Marco Aurélio Romano Silva, Ramon Cosenza. 2000 - Cléber Naief Moreira, Cristina Peixoto Jardim, Ester Assumpção Dias, Leandro Augusto Paula da Silva, Mariany Souza Gomes. 2001 - Adauto Silva Clemente, Alessandro da Silveira, João Vinícius Salgado, Luis Augusto dias Malta, Hugo Alejandro Cano Prais. 2002 - Jovana Sério Veiga Lima, Oscar José Grossi Santiago Lima, Robson Kazunori Tokuda, Rosana Fortes Zschaber Marinho. 2003 - André Luiz Nunes, Bruno Copio Fábregas, George Augusto Guimarães Lodi, José Mauro Barbosa Reis, Helbert Antoniazi Salem Campos. 2004 - Carla Fonseca Zambaldi, Fabrício Meyer Godoy, Janaína Matos Moreira, Eduardo Guimarães Ferreira, Júlio Santa Rosa da Silveira. 2005 - Fernando Machado Vilhena Dias, Frederico Duarte Garcia, Leonardo Freitas e Silva, Priscila de Siqueira Ramos, Vinicius Expedito Martins Gomes. 2006 - Felipe Filardi da Rocha, Flávia Mello Soares, Karla Cristhina Alves Souza, Pedro Braccini Pereira, Renata Cristiane Marciano.
Outro serviço que
assumiu importância primordial no ensino da psiquiatria em nosso estado é a
residência de psiquiatria do Hospital de Previdência do Estado (IPSEMG).
Coordenado pelo trabalho ingente e extremamente competente do prof. Fábio Lopes
Rocha, tem formado também uma geração de jovens psiquiatras que têm
engrandecido o nome de nossa especialidade no Brasil. Fábio Lopes Rocha tem se
mostrado de uma dedicação ímpar em nosso meio ao coordenar, há vários anos, as
reuniões clínicas da residência, às quartas-feiras pela manhã, aberta a todos
os profissionais da área interessados nos temas. Já passaram por elas os nomes
mais expressivos de nossa psiquiatria mineira, bem como professores e
profissionais das mais distintas áreas que fazem interlocução com a
psiquiatria. Esta iniciativa, extremamente enriquecedora para nossa comunidade
científica, tem se mostrado a mais resistente à ação deletéria do tempo. Para tal,
traz sempre um palestrante que apresenta temas dos mais atualizados e
informações de ponta em todos os setores da psiquiatria, neurociências e áreas
afins.
Ao término da
década de 1990, em plena vigência da Década do Cérebro, instituído
pela Organização Mundial de Saúde, o período glorioso vivido pela
neuropsiquiatria mundial, Minas Gerais não poderia continuar sem uma entidade
de classe que representasse o grupo vinculado ao trabalho, estudo e pesquisas
nas neurociências. Assim, foi criada a Associação Acadêmica Psiquiátrica de
Minas Gerais (AAP-MG), que, apesar do termo “acadêmica”, foi aberta para todos
aqueles profissionais que não exercem a carreira universitária. Tornou-se uma
filiada da Associação Brasileira de Psiquiatria e congrega hoje um expressivo
número de psiquiatras de elevado calibre científico, cultural, humanístico e
filosófico, incluindo vários escritores. Desde então, essa entidade está sempre
na promoção de eventos de grande interesse para a categoria.
Os congressos
mineiros de psiquiatria atuais retornaram aos trilhos da psiquiatria como
especialidade médica, que vem se beneficiando grandemente dos espetaculares
avanços das neurociências, da psicofarmacologia, da genética, e do progresso e
desenvolvimento de novas técnicas psicoterápicas. Basta ler o programa do XVI
Congresso Mineiro de Psiquiatria, realizado de 11 a 13 de setembro de 2014,
para se constatar o quão diferente este congresso está dos anteriores.[14] O avanço, o
aprimoramento, a qualificação dos profissionais da psiquiatria em Minas Gerais
nos últimos anos é notável. Quase não se fala mais no hospital, pois cada vez
menos os psiquiatras internam seus pacientes. O arsenal psicofarmacológico à
disposição do psiquiatra do século XXI dispensa, na sua quase totalidade, o
internamento hospitalar. As estatísticas revelam claramente que mais de noventa
por cento dos pacientes internados hoje em hospitais psiquiátricos são em
decorrência do uso e abuso de substâncias. Muito diferente do que ocorria 30 ou
mais anos atrás. A realidade hoje é outra e inquestionável.
As discussões hoje
ocorrem em elevado nível científico e se baseiam nos avanços tecnológicos que
impulsionam a medicina e, em particular, a psiquiatria, e já não são mais
ideológicas ou antipsiquiátricas. O movimento antimanicomial envelheceu rápido,
mais parecendo um morto vivo. Vemos mais movimentos de rua, bem ao estilo do
populismo de massa, em que um número elevado de pessoas pouco cientes do tema
mobilizado e que servem mais como massa de manobra de líderes sectários movidos
por interesses político-partidários, fazem passeatas com seus cartazes
agressivos, com seus apitos, com suas camisas vermelhas e suas velhas palavras
de ordem, num chavão já desmoralizado, a perturbar o trânsito de nossas
metrópoles. Espasmos de um moribundo, ainda alimentado artificialmente
pelo soro da ideologia sectária, radical e (por que não?) fanática.
Com este clima
benfazejo e estimulante, diversos de nossos colegas publicaram livros de grande
repercussão nos meios psiquiátricos e das ciências afins de Minas Gerais. Posso
citar: Marco Aurélio Baggio, recentemente falecido, autor de mais de duas
dezenas de obras cujo espectro abrange temas que vão da história, à crônica e à
clínica psiquiátrica; Almir Tavares Junior, que organizou e escreveu diversos
capítulos de um tratado sobre Psiquiatria Geriátrica, que logo se
tornou referência no tema; Antônio Lúcio Teixeira Júnior, clínico, neurologista
e neuropsiquiatra, um dos mais brilhantes psiquiatras da nova geração, autor de
mais de quatro centenas de trabalhos científicos e co-autor de um livro de
neurologia (Exame neurológico: bases anatomofuncionais) e organizador de
dois livros (Neurologia Cognitiva e do Comportamento e Neuropsiquiatria
Clínica), têm expressado o real valor de nossa psiquiatria mineira
contemporânea. A modesta contribuição que tenho dado à literatura médica
foi a publicação de outros dois livros: Auto-avaliação em
Psicogeriatria, pela Editora Health, de Belo Horizonte, em 1996, e Memória,
Aprendizagem e Esquecimento – A memória através das neurociências cognitivas,
pela Editora Atheneu, Rio de Janeiro, em 2010. Tenho a certeza de que muitos
outros livros importantes e trabalhos científicos de grande impacto estão sendo
gestados em nosso meio, principalmente produzidos por esta gama de grandes
psiquiatras e pesquisadores desta nova geração da qual tenho grande orgulho.
Como testemunha
ocular da história da psiquiatria mineira há 47 anos, observo nossa psiquiatria
com os olhos da esperança e da confiança de que alçaremos voos maiores e
melhores. E temos ainda a certeza de que nossos pacientes terão à sua
disposição, cada vez mais, métodos e técnicas humanas e mais avançadas para o
alívio de seus sofrimentos.
Eis como vejo a
História da Psiquiatria Mineira.
[1]
Moretzohn, Joaquim
Affonso. História da psiquiatria mineira. Belo Horizonte. Coopmed Ed., 1989.
[2] Piccinini, Walmor. Apontamentos para a história da
psiquiatria mineira à luz das suas publicações. III. Disponível em: http://www.polbr.med.br/ano06/wal0606.php. Acesso em: 4/09/2014.
[3] Piccinini, Walmor. Apontamentos para a
história da psiquiatria mineira à luz das suas publicações.
Disponível em: http://www.polbr.med.br/ano06/wal0506.php. Acesso em: 07 novembro 2012.
[4] Corrêa, Antônio Carlos
(Editor). Psicofármacos. Belo Horizonte. Centro de Estudos
Galba Velloso, 1969.
[5]
Velloso, Fernando
et al. Assistência psiquiátrica pública em Minas Gerais. Trabalho
apresentado ao VI Congresso Latino-Americano de Psiquiatria e I Congresso
Brasileiro de Psiquiatria. Anais. São Paulo, 202-211, 1970.
[6] Mendonça, José Lorenzato; Coelho,
Ronaldo Simões; Gusmão, Sebastião. História
da psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Disponível em: http://sbhm.webnode.com.br/news/historia-da-psiquiatria-na-faculdade-de-medicina-da-universidade-federal-de-minas-gerais-1911-1961-/. Acesso em: 4/09/2014.
[7] Hélio Durães de Alkmim.
Wikipédia. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9lio_Dur%C3%A3es_de_Alkmim. Acesso em: 4/09/2014.
[8]
Oliveira, Marcos de. A psicanálise
culturalista. Sociedade Brasileira de Psicanálise Holística. Disponível em:
http://www.sbph.com.br/default.aspx?section=72&article=52.
Acesso em: 4/09/2014.
[9] Alves, Nasser Zacharias. A Vida como Criação. Introdução a uma
postura psicoterapêutica. Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria,
vol. 35, no. 2, março/abril 1986.
[10] Salim, Sebastião Abrão. A
história da psicanálise no Brasil e em Minas Gerais. Disponível em: http://www.gepmg.org/. Acesso em: 04/09/2014.
[11] Círculo Brasileiro de
Psicanálise. Disponível em: http://www.cbp-rj.org.br/historico.htm. Acesso em: 4/09/2014.
[12] Santos, Rodrigo
Afonso Nogueira, & Kyrillos Neto, Fuad. Contribuições
para uma historiografia da psicanálise em Minas Gerais. Disponível em: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/analytica/article/viewFile/628/560.
Acesso em: 4/09/2014.
[13] Pinheiro, Marcio Vasconcelos. Considerações sobre a clínica na atualidade:
psiquiatria, psicanálise e saúde mental. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund.,
VIII, 3, 523-532, 2005. Disponível em:
file:///C:/Users/Cliente/Documents/Ant%C3%B4nio%20Carlos/Livros%20AC/Trabalhos%20publicados/Marcio%20Vasconcelos%20Pinheiro%20-%20Psiquiatria%20e%20psican%C3%A1lise.pdf.
Acesso em: 5/09/2014.
[14] XVI Congresso Mineiro de
Psiquiatria. AMMG. Belo Horizonte, 11 a 13 de setembro de 2014. Disponível em: http://www.ampmg.org.br/
Muito prezado Antonio Carlos : meus parabens por sua exatidão minuciosa e pela veracidade e objetividade de seu relato . Jorge Paprocki .
ResponderExcluirSou eu quem lhe agradece, Jorge Paprocki, por toda a sua contribuição para a psiquiatria mineira.
ResponderExcluir