Friedrich August Kekulé
(1829-1896), o fundador da Química Orgânica.
Friedrich
August Kekulé (1829-1896) foi um grande químico alemão, nascido em Darmstadt,
que descobriu a fórmula química do anel benzênico. Entretanto, ele não
conseguia explicar as propriedades aromáticas do benzeno através das conexões
dos átomos de carbono (C) e hidrogênio (H) com a sua tradicional teoria
estrutural. Ela consistia nos seguintes itens:
• Tetravalência constante
O átomo de carbono é tetravalente, ligando-se a
quatro átomos monovalentes.
• As quatro valências são equivalentes
O carbono apresenta quatro valências equivalentes, por um composto com a fórmula CH 3 Cl, denominado de monoclorometano ou cloreto de metila. Se as quatro valências não fossem equivalentes, haveria quatro compostos com a fórmula CH 3 Cl.
• Encadeamento
Os átomos de carbono se ligam entre si formando as
cadeias. Estas cadeias são variaveis e de todos os tipos. Ainda existem cadeias
não tão longas e tão variadas como as do elemento carbono.
• Ligações entre os átomos de carbono
Se tratando dos átomos de carbono, podemos dizer que eles podem se ligar através de uma, duas ou três valências.
Se tratando dos átomos de carbono, podemos dizer que eles podem se ligar através de uma, duas ou três valências.
• Ligação Simples
Na ligação simples, dois átomos de carbono, são
capazes de se ligar por meio de uma unidade de valência. A representação
simbólica se dá através de um traço simples.
• Ligação dupla
Na ligação dupla, dois átomos de carbono são
capazes de se ligar por meio de duas unidades de valência. A representação
simbólica se dá através de dois traços.
• Ligação tripla
Na ligação tripla, dois átomos de carbono, são
capazes de de se ligar por meio de três unidades de valência. A representação
simbólica se dá através de três tracinhos.
Sem conseguir uma solução racional para justificar
as propriedades do benzeno, ele foi ajudado por um sonho que teve certa noite,
enquanto dormia. O sonho foi o seguinte:
“Eu
estava sentado à mesa a escrever o meu compêndio, mas o trabalho não rendia; os
meus pensamentos estavam noutro sítio. Virei a cadeira para a lareira e comecei
a dormitar. Outra vez começaram os átomos às cambalhotas em frente dos meus
olhos. Desta vez os grupos mais pequenos mantinham-se modestamente à distância.
A minha visão mental, aguçada por repetidas visões desta espécie, podia
distinguir agora estruturas maiores com variadas conformações; longas filas,
por vezes alinhadas e muito juntas; todas torcendo-se e voltando-se em
movimentos serpenteantes. Mas olha! O que é aquilo? Uma das serpentes tinha
filado a própria cauda e a forma que fazia rodopiava trocistamente diante dos
meus olhos. Como se se tivesse produzido um relâmpago, acordei;... passei o
resto da noite a verificar as consequências da hipótese. Aprendamos a sonhar,
senhores, pois então talvez nos apercebamos da verdade."
BOYD, E.; MORRISON, R. Mol. In:______. Química orgânica. 12. ed. Lisboa: Fundacao Calouste
Gulbenkian, 1995. cap. 14.3, p. 701.
Essa formação
circular da molécula, com entrelaçamentos entre átomos de carbono e hidrogênio,
jamais havia sido proposta por qualquer outro químico. Com essa disposição
circular da molécula, que veio a se chamar de anel benzênico, deu curso a uma
verdadeira revolução na química orgânica, que repercute até os nossos dias na
biologia e na medicina.
Abaixo se vê a
disposição linearl da molécula do benzeno:
Uma dessas
grandes descobertas foi de que inúmeros produtos químicos tinham uma molécula
composta por três anéis benzênicos, como se pode ver a seguir:
Abaixo
se vê a estrutura espacial tridimensional dos anéis benzênicos:
Os
três anéis benzênicos entrelaçados deram aos pesquisadores a oportunidade de
descobrir milhares de fórmulas de moléculas de produtos com qualidades e ações
diversas, principalmente na área da biologia e medicina. A ação de cada um
deles se modificava de acordo com os radicais químicos que se uniam a pontas de
cada um desses anéis. Cada radical diferente levava a molécula a uma ação
totalmente diferente da outra. Aqui se deu a descoberta do filão de ouro.
Uma
das maiores descobertas médicas, ocorreu em fins da década de 1930 e início da
de 1940, quando se observou que um fármaco, com estrutura dos três anéis
benzênicos, de ação tuberculostática (para tratamento da tuberculose), a
isoniazida e, posteriormente, a iproniazida, tinham ações positivas no
tratamento do humor de pacientes deprimidos (a tuberculose, pelo seu estigma,
levava grande parte dos pacientes à depressão). Outra descoberta, foi que
algumas dessas moléculas com três anéis benzênicos também melhoravam pacientes
com surtos psicóticos paranoides.
Essa
descoberta deu origem aos antipsicóticos, em fins da década de 1940, sendo o
primeiro a CLORPROMAZINA (Amplictil, Thorazine), cuja molécula vemos abaixo:
Sua
fórmula espacial em 3-D é a seguinte:
A
revolução que essa descoberta trouxe para a medicina, em particular para a
psiquiatria, é algo espetacular. Milhões de pacientes portadores de diversos
transtornos mentais, entre eles a esquizofrenia, puderam ser tratados de forma
mais rápida, recebendo alta dos hospitais num tempo mais curto e melhorando a
sua qualidade de vida e equilibrando suas famílias. A principal causa da
espetacular queda no número de hospitalizações psiquiátricas se deu após o
lançamento da clorpromazina no mercado mundial.
Outro
desenvolvimento da molécula dos três anéis benzênicos ocorreu com acréscimo de
certos radicais químicos que deram origem, em 1957, ao primeiro antidepressivo
tricíclico (vem do nome dos anéis benzênicos) chamado IMIPRAMINA (Tofranil),
cuja molécula é mostrada abaixo:
A
AMITRIPTILINA, outro antidepressivo tricíclico, tem uma molécula semelhante:
Compreende-se
o impacto que essas descobertas trouxeram à psiquiatria e à medicina, quando
milhões de vidas humanas foram salvas do suicídio, e de outras doenças,
decorrentes da depressão. Hoje dispomos de antipsicóticos e antidepressivos de
última geração que produzem muito menos efeitos colaterais que esses pioneiros.
Mas, foi graças a eles que temos o arsenal terapêutico atual, verdadeira
maravilha da ciência.
São
conhecidos hoje mais de 15 milhões de produtos químicos derivados do benzeno e
da estrutura dos três anéis.
O
nome de Kekulé, portanto, deve ser sempre lembrado e reverenciado, como um dos
maiores benfeitores da Humanidade.
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