Centro de Atenção Cognitiva
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A Terapia Cognitiva é uma técnica
psicoterápica desenvolvida nos Estados Unidos na década de 1960 por Aaron Beck,
então professor titular de psiquiatria na Universidade da Pensilvânia.
Psiquiatra e psicanalista, mas insatisfeito com os resultados da Psicanálise no
tratamento da depressão, ele passou a desenvolver estudos e pesquisas para
encontrar uma técnica mais adaptada, mais rápida e mais accessível aos
pacientes portadores desse transtorno que hoje é considerado o "mal do
século". Para tal ele
utilizou-se de técnicas então consagradas da Terapia de Comportamento e da
Terapia Racional-Emotiva de Albert Ellis já muito conhecida pela sua eficácia
nos Estados Unidos. Posteriormente, esta técnica foi aperfeiçoada por inúmeros
colaboradores e seguidores de Beck. A Terapia Cognitiva é um método
estruturado, diretivo, ativo e de tempo limitado. É indicada no tratamento de
uma série de transtornos psiquiátricos. O seu paradigma é o tratamento das
depressões, para as quais o método foi originalmente desenvolvido. Entretanto,
com o seu desenvolvimento no decorrer do tempo, e após intensivos estudos
experimentais e cientificamente controlados, ela passou a ser aplicada também
aos transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, psicoses,
dependências químicas, transtornos alimentares, disfunções sexuais, conflitos
conjugais e ainda na psiquiatria da criança e do adolescente bem como na psiquiatria geriátrica. Seu princípio básico é o de que os afetos e
os comportamentos humanos são principalmente determinados pela maneira como o
Homem pensa o mundo.
Para que nós possamos compreender o
mecanismo central do funcionamento da Terapia Cognitiva vejamos o que acontece
com uma pessoa deprimida. Nas depressões nós encontramos uma forma de pensar
típica, o chamado padrão cognitivo, que se pauta pelo pessimismo. Este pessimismo, na maioria das vezes, não
tem bases na realidade. Pelo contrário, a realidade se mostra com frequência
contrária ao conteúdo do pensamento depressivo.
Vejamos os seguintes exemplos de pensamento pessimista:
"Eu não consegui passar no
vestibular porisso eu sou um fracasso.
Eu não vou vencer na vida".
"Eu sou um péssimo
funcionário. Tudo que eu faço dá errado. As pessoas me suportam por que têm
pena de mim".
"Eu estou ficando velho, minha
barriga está crescendo e meus cabelos caindo. Ninguém presta atenção em
mim."
Esses são pensamentos típicos de um
deprimido. Aparentemente eles podem estar corretos, mas analisando cada
situação com mais detalhes nós podemos observar uma profunda distorção do que
realmente acontece. Geralmente, a pessoa não pensava assim antes. Houve uma
distorção provocada por mudanças profundas que a depressão produz na pessoa.
Apesar de todas as evidências em contrário, a pessoa continua a pensar de forma
negativista, derrotista, generalizando pequenas coisas que acontecem no
cotidiano. Nós chamados de distorções cognitivas a todas as
formas alteradas e deformadas de pensar que ocorrem principalmente no
deprimido, mas não são exclusivas dele. Podemos descrever algumas das
principais distorções cognitivas como a seguir:
a- Pensamento do tipo
tudo-ou-nada, também chamado de pensamento preto-e-branco, polarizado ou
dicotômico. Ex.: "Se eu não conseguir um 10 na prova de matemática, eu sou
um fracasso total".
b- Pensamento baseado em
inferência arbitrária. Quando a pessoa chega a uma conclusão sem nenhuma
prova em que se basear ou mesmo quando as provas lhe são contrárias.
c- Pensamento com abstração seletiva.
Também conhecido como filtro mental. Quando a pessoa se focaliza em um detalhe,
retirado do contexto, ignora outros aspectos mais importantes da situação e se
baseia totalmente neste aspecto enfocado.
A pessoa desqualifica ou nega todo elemento positivo e só vê o negativo.
d- Catastrofização. Também
conhecido como adivinhação pois a pessoa prevê o futuro de forma negativa sem
avaliar outras probabilidades mais viáveis.
e- Supergeneralização. É uma
forma de pensamento no qual a pessoa chega a uma conclusão geral ou regra
baseando-se em um ou mais fatos isolados aplicando-a a situações que podem ou
não estar relacionadas a eles.
f- Magnificação e minimização.
São pensamentos baseados em erros de avaliação do significado ou da grandeza de
um acontecimento e levam a graves distorções para mais ou para menos.
g- Personalização. É um
pensamento no qual a pessoa acredita que os outros estão se comportando
negativamente em relação a ela, sem avaliar outras possibilidades de
explicações.
Existem outras distorções
cognitivas mas não vamos nos deter agora em sua enumeração. O importante é
saber que essas distorções estão por trás das emoções de tristeza, abatimento e
sofrimento nos transtornos psiquiátricos. Como no caso do deprimido, ao se ver
de forma negativa, a pessoa acredita que é desamparada e sozinha no mundo e
está sempre se culpando por pequenas falhas ou defeitos. Ela não vê com
esperanças o seu futuro, perdendo o interesse por tudo que a cerca e não obtém
mais prazer nas coisas que anteriormente gostava. Também tem grande dificuldade
em tomar decisões ou de executar as tarefas de seu cotidiano. Tudo isso pode
trazer, além da depressão, distúrbios físicos ou neurovegetativos, dependência
a álcool, drogas ou cigarro, ansiedade, ou ainda levar ao suicídio.
Uma das principais descobertas
feitas por Beck e colaboradores é de que muitos pacientes psiquiátricos podem
ser ajudados através da mudança de seus pensamentos errados, também chamados de
pensamentos automáticos, ao invés do terapeuta ficar concentrado somente em seu
humor deprimido. Em seus estudos eles observaram que, embora os deprimidos
tivessem opiniões desfavoráveis acerca de si mesmos, eles saiam-se tão bem
quanto pessoas normais na realização de respostas a séries de perguntas
complexas. Uma bateria de testes foi realizada na qual tarefas de dificuldade
progressiva eram dadas envolvendo leitura, compreensão e opinião pessoal.
Quando eles obtinham sucesso eles ficavam mais otimistas, melhorando sua
autoimagem e o humor. Essas pessoas se sairam melhor ainda quando mais tarde
foi solicitado que fizessem outros testes.
Estas evidências experimentais
sugeriram aos pesquisadores novos rumos no tratamento da depressão e novas
maneira nas quais a pessoa deprimida poderia aprender a se ajudar. Descobriram
que pessoas deprimidas têm continuamente pensamentos negativos e eles aumentam
a depressão. Como esses pensamentos não são baseados em fatos reais eles fazem
a pessoa se sentir triste sem fundamento para isso. Esses pensamentos afastarão
a pessoa de todas as atividades que a fazem se sentir melhor. Isso gera
pensamentos extremados como: "Eu sou um fracasso." "Eu
sou incompetente." "Eu sou um zero à esquerda."
Beck nos dá um bom exemplo do que
pode ocorrer a um deprimido. Ele pede para supormos que estejamos descendo uma
rua e vejamos um amigo que aparentemente nos ignora. Nós podemos nos sentir
tristes por causa disso. Podemos até imaginar que nosso amigo ficou contra nós.
Mais tarde podemos comentar com ele sobre o ocorrido e ele poderá nos dizer que
estava ocupado naquele momento e que sequer nos viu. O normal é nos sentirmos
melhor e esquecermos o episódio. Mas se estivermos deprimidos, provavelmente
nós acreditaremos que nossos amigos nos rejeitam. Provavelmente nem iremos
questioná-lo a respeito disso, mantendo o engano. O fato é que as pessoas deprimidas cometem
enganos frequentemente.
Como vimos, na depressão grande
parte do sentimento de tristeza e desesperança é provocado pelos pensamentos
negativos que chamamos de automáticos. A forma errada e distorcida de perceber
a realidade está na base desses pensamentos automáticos. Isso pode se associar
à forma distorcida que a pessoa pode ter de si mesma desde tenra idade.
A grande descoberta da Terapia
Cognitiva é que nós podemos desenvolver habilidades para resolver problemas
psicológicos da mesma forma como temos habilidades para resolver problemas em
outras áreas. Nós podemos desenvolver nossa capacidade de raciocínio e nosso
intelecto para checar nosso pensamento e avaliar até que ponto ele é realista
ou fantasioso. Assim, nós podemos nos livrar de pensamentos defeituosos sempre
que vivermos uma situação que pode nos ser desagradável no primeiro momento. A
terapia procura ensinar ao paciente a reconhecer seus pensamentos negativos,
corrigi-los e substitui-los por pensamentos mais adequados e realistas.
Como Funciona a
Terapia Cognitiva?
Todos nós, mesmo os não deprimidos,
podemos ter ocasionalmente pensamentos negativos e automáticos. O que
diferencia o não deprimido do deprimido é que no primeiro esses pensamentos são
apagados da memória ou são devidamente analisados e criticados à luz da razão e
assim superados. O deprimido tem pensamentos negativos todo o tempo, não se dá
o devido valor e acha que a solução para os seus problemas é sumir ou morrer.
A Terapia Cognitiva nos
ensina a identificar os pensamentos automáticos que são baseados na pobreza de
avaliação que temos a nosso próprio respeito e que é o oposto da realidade.
Aprendemos o quanto eles são irracionais e como não têm nenhuma finalidade
útil, isto é, são disfuncionais. Eles podem nos parecer plausíveis no momento
em que surgem e isso nos faz sentir ainda pior. Esses pensamentos nos enredam
numa teia muito bem construida de pessimismo e nos faz desistir da maioria de
nossos projetos de vida. Nossa desistência nos dá a certeza de que somos
inúteis, fracassados e inferiores. A Terapia Cognitiva procura nos
ensinar a reconhecer esses pensamentos negativos e nos faz compreender por que
eles são incorretos e irracionais.
Para tal, ela lança mão de uma
série de métodos práticos e didáticos que nos ensinam a nos corrigirmos para o
nosso próprio bem. Um deles é a programação de um Diário de Atividades. Nele
nós anotamos todas as atividades que temos durante todas as horas do dia,
durante toda a semana. Damos notas ao prazer que temos ao realizá-las e à
qualidade de nosso desempenho para que possamos identificar os piores momentos
do dia e assim nos dar os instrumentos para alterá-los. O Registro de
Pensamentos Disfuncionais é outro poderoso instrumento de anotação das
situações que nos levam a ter emoções negativas e, consequentemente,
pensamentos disfuncionais. Aprendemos a identificá-los e usamos métodos de
questioná-los usando um método poderoso que se chama questionamento
socrático. Em seguida procuramos as alternativas a esses pensamentos e as
anotamos, avaliando logo depois as consequências emocionais de tal
questionamento. Para que o processo de
nosso autoconhecimento se consolide, usamos o Diagrama Cognitivo onde,
baseados no detalhamento dos pensamentos negativos e das consequências nefastas
que eles nos trazem, partimos para um estudo mais aprofundado de suas origens,
geralmente localizados em nossa infância. Vamos então buscar as Crenças
Centrais surgidas nesse período e baseadas em distorções na maneira pela
qual nós enxergamos os eventos que nos ocorreram. Essas Crenças, que jazem
adormecidas em nosso subconsciente, nos acompanham desde a infância na maioria
das vezes sem nos molestar. Mas quando em nossa juventude ou vida adulta
estamos fragilizados por acontecimentos negativos (que para muitas pessoas são
perfeitamente superáveis) essas Crenças podem ser reativadas dando origem aos Pensamentos
Automáticos negativos. As consequências podem ser sinais e sintomas
comportamentais, motivacionais, afetivos, cognitivos e somáticos. Daí pode surgir uma cadeia de reações
depressivas, ansiosas, fóbicas, obsessivas, psicóticas, alimentares,
disfuncionais sexuais, de busca de alívio nas drogas ou no álcool.
Em seu trabalho, o terapeuta
cognitivo lança mão de técnicas cognitivas e comportamentais. Entre essas
técnicas mais úteis estão: o questionamento socrático, o exame de vantagens e
desvantagens de certos conceitos, o desempenho de papéis
("role-playing"), métodos de agir "como se", o continuum
cognitivo, os experimentos comportamentais já conhecidos na Terapia
Comportamental clássica, os cartões de enfrentamento, a minuta de crença
central, o desenvolvimento de metáforas, a reestruturação de memórias antigas e
muitos outros métodos.
Como já foi dito, a Terapia
Cognitiva é uma técnica de tempo limitado. Em média pode durar de 10 a 20
sessões. Alguns pacientes já começam a ser preparados para a alta antes mesmo
das 10 sessões iniciais, numa fase que se chama de prevenção da recaída. Isso
ocorre principalmente em depressões, quadros ansiosos como o Transtorno do
Pânicos e certas fobias. Desde o início o paciente é treinado para, no futuro,
ser o seu próprio terapeuta. Assim ele poderá enfrentar por si mesmo as
dificuldades que certamente surgirão no futuro. Mas em alguns pacientes a
terapia pode durar bem mais que as 20 sessões iniciais. Como é o caso de
terapias com pessoas portadoras de Transtornos de Personalidade, dependências
químicas e psicoses.
A Terapia Cognitiva não tem
a duração exclusiva dos 50 minutos da sessão. Através de tarefas para casa,
estabelecidas de comum acordo entre o terapeuta e o cliente, este terá todo o
tempo de intervalo entre as sessões para continuar trabalhando suas
dificuldades e seus pensamentos disfuncionais, bem como aplicando em casa
técnicas de reconstrução cognitiva e comportamental. As tarefas para casa são
um ítem indispensável e fundamental para o sucesso da terapia. As dificuldades surgidas na sua realização
são trabalhadas durantes as sessões.
As sessões de Terapia Cognitiva
são estruturadas, isto é, seguem um roteiro predeterminado. No início de cada
sessão o terapeuta procura se informar do estado atual do cliente quanto à
intensidade da depressão, da ansiedade, da fobia, das manifestações obsessivas,
etc. Para tal, pode lançar mão de escalas de avaliação como a Escala
Hamilton de Depressão ou Escala Hamilton de Ansiedade, bem como o Inventário
Beck de Depressão ou outros. Também
busca informações com o cliente acerca da sessão passada e como foi a semana
que antecedeu à sessão. Em seguida, o terapeuta e o cliente estabelecem uma
agenda para discutir os problemas mais importantes naquela sessão. Aí se inclui
a avaliação e revisão das Tarefas para Casa estabelecidas na sessão
anterior. A discussão de tópicos do roteiro domina grande parte do tempo a
partir daí. Novas tarefas para casa para a sessão seguinte são combinadas de
comum acordo entre terapeuta e cliente. Um resumo final da sessão é
apresentado, bem como um feedback é solicitado do cliente para se avaliar até que ponto ele compreendeu
tudo que foi discutido e orientado na sessão.
Esta estruturação das sessões evita a perda de tempo com a discussão de
temas irrelevantes para o momento ou o famoso circunlóquio que ocorre em muitas
sessões psicoterápicas e que acabam por torná-las ineficazes.
A Terapia Cognitiva é,
portanto, uma técnica importante no tratamento de inúmeros transtornos
psiquiátricos e inadequações psíquicas, cientificamente fundamentada, com
eficácia comprovada em inúmeras pesquisas e levantamentos de acompanhamento de
casos (estudos de follow-up), que requer uma participação ativa do
cliente e a execução de tarefas para casa que demonstram o real empenho do
mesmo na solução de suas dificuldades. É uma terapia de tempo limitado,
incluindo-se portanto dentro das terapias breves. Financeiramente não é onerosa principalmente
por ter um tempo limitado. Pode ser utilizada junto com a administração de
medicamentos psiquiátricos, sem qualquer problema de incompatibilidade entre
ambos. A contraindicação mais importante
para a realização da Terapia Cognitiva é a presença de comprometimentos
cognitivos no paciente, como demências, confusão mental e quadros graves
psicóticos ou depressivos quando o uso da medicação correta em altas doses é
prioridade absoluta. A Terapia Cognitiva pode ser indicada a crianças,
adolescentes, adultos e idosos, variando principalmente a focalização de temas
diferenciados e característicos de cada faixa etária. A Terapia Cognitiva
não é uma panacéia universal, indicada indiscriminadamente para todas as
pessoas. É necessária a avaliação de um
médico psiquiatra ou psicólogo previamente. Muitos pacientes podem se
beneficiar de outros tipos de terapia de acordo com os critérios de cada
profissional.
Para saber mais:
1- Beck, A. et al. - Terapia
Cognitiva da Depressão. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1997.
2- Beck, A. & Greemberg, A.B.
- Lidando com a Depressão. Tradução de Maria Luiza A. Corrêa. Cópia
xerográfica.
3- Beck, J. - Terapia Cognitiva
- Teoria e Prática. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas. 1997.
4- Beck, A. & Freeman, A. - Terapia
Cognitiva dos Transtornos de Personalidade. Porto Alegre, Ed. Artes
Médicas, 1993.
5- Hawton, K.; Salkovskis, P.M.;
Clark, D.M. - Terapia Cognitivo-Comportamental para Problemas Psiquiátricos
- Um Guia Prático. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1997.
6- Freeman, A. & Dattilio,
F.M. - Compreendendo a Terapia Cognitiva. São Paulo, Ed. Psy, 1998.
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