quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As psicoses do envelhecimento no cinema



O tema das psicoses tardias, parafrenias tardias, ou psicoses que surgem durante o processo de envelhecimento, têm sido tema de diversas áreas das artes e da literatura. O cinema tem retratado  esses quadros psiquiátricos periodicamente, notadamente o cinema clássico. O Expressionismo Alemão foi o primeiro a abordar temas hoje tão estudados pela ciência. Um dos grandes filmes que retratou essa candente questão foi uma das maiores obras primas da história do cinema: Dies Irae, do grande cineasta dinamarquês, Carl Theodor Dreyer, que viveu boa parte de sua vida na Alemanha, daí ser considerado um dos grandes mestres do Expressionismo Alemão. Aliás, essa escola, nos legou algumas das maiores preciosidades cinematográficas de todos os tempos, como veremos a seguir.

Vamos ao primeiro filme que desejamos apresentar aos interessados na sétima arte.
Dies Irae (Vredens Dag), lançado no Brasil com o nome de Dias de Ira, ou Dias de Fúria, é um filme de 1943, portanto, quando o mundo vivia os horrores da II Guerra Mundial e seus horrores, em particular o Holocausto, que vitimou mais de 6 milhões de judeus.

Sua ficha técnica é a seguinte:

Dies Irae (Vredens Dag)
Ano: 1943
Diretor: Carl Theodor Dreyer

Roteiro: Hans Wiers-Jenssen (baseado na obra teatral "Anne Pedersdotter" e Carl Theodor Dreyer

Gênero: Drama
Duração: 97 min
País: Dinamarca
Língua: Dinamarquês


Elenco:
Lisbeth Movin, Thorkild Roose, Preben Lendorff-Rye, Anna Svierker, Sigrid Neilendam.
Sinopse:
Na Dinamarca do século XVII, mais precisamente em 1623, uma senhora idosa  (Anna Svierker) é acusada de bruxaria. À medida em que, de forma sombria, ocorre a prisão, confissão sob tortura, condenação à queima na fogueira e execução da senhora, a jovem esposa, Anne, (Lisbeth Movin) de um pastor da cidade, Absalom Pedersson (Thorkild Roose), entrando na velhice, apaixona-se pelo filho deste, de um matrimônio anterior (Preben Lendorff-Rye), de idade aproximada à de Anne, e que acabava de retornar à cidade, após longo tempo fora. O pastor fazia parte dos religiosos que interrogaram a idosa e a sentenciaram, apesar das tentativas dele de amenizar a pena. O sentimento misto de culpa, angústia e medo, faz com que sua esposa revele ao marido o que ocorreu, o que acaba por provocar sua morte, decorrente de um ataque cardíaco fulminante. Durante as cerimônias do funeral, a mãe do pastor, sempre enciumada da nora, denuncia a jovem viúva como também sendo uma bruxa. Cenas dramáticas são vistas durante toda a exibição da película, como as que, em pleno desespero, a senhora idosa amaldiçoará toda a família do pastor, a quem culpa por sua condenação.

 
 
 

Uma das cenas mais marcantes deste filme é aquela em que a senhora idosa, acusada de bruxaria, é torturada pela Inquisição. Essa cena retrata de forma bem realista o que foi o processo de tortura medieval instituído pela Inquisição para a obtenção de confissões de culpa de heresia, apostasia, pacto com o diabo, exercício em segredo de práticas religiosas não-católicas (como foi o caso dos judeus ou cristãos-novos). Um método repulsivo e intolerável sob todos os aspectos, que deu origem aos métodos de tortura empregados no século XX pelos regimes nazista e comunista contra seus adversários. Nas cenas apresentadas no link abaixo podemos ver toda esta barbaridade:

https://docs.google.com/file/d/0B9zBbq3OaOaNSXBZb291VGZPV1k/edit?usp=sharing


Carl Theodor Dreyer é uma figura exponencial no panorama cinematográfico mundial, por sua composição filmica elaborada, porém sóbria, baseada em reminiscências pictóricas, seu cuidadoso tratamento estético, a fim de obter uma profunda exploração psicológica de seus personagens. A força emocional lançada pelas suas imagens e personagens e sua busca por matérias espirituais e metafísica é outra marca registrada do diretor.

Dies Irae aborda questões fundamentais como a intolerância, o dogmatismo religioso, a repressão moral, o desejo sexual descontrolado, tudo sob um título sombrio e marcante, abordando a questão da bruxaria, após onze anos da filmagem de sua obra anterior, "Vampiro, a bruxa vampiro", de 1932.

Esta temática está muito vinculada aos conteúdos delirantes, notadamente no curso do envelhecimento: perseguição, culpa, pecado, remorso, punição, ódio, intolerância.

Um filme imperdível para quem estuda essas questões!


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