segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A história das neurociências e a psiquiatria mineira

Texto publicado na revista Dialética. Centro de Estudos Galba Velloso. Belo Horizonte, dezembro de 2014. Comemoração dos 50 anos de fundação do Centro de Estudos Galba Velloso.



A História das Neurociências e a Psiquiatria Mineira

Antônio Carlos de Oliveira Corrêa[*]

“O corpo não pode determinar que a mente pense; nem a mente determinar que o corpo fique em movimento ou em repouso, ou em qualquer outro estado, pela simples razão de que a decisão da mente e o desejo e a determinação do corpo (...) são uma única coisa”. (Baruch Spinoza. Ética, Parte II, Proposição XIII).


Distinguido que fui com a solicitação pela Diretoria do Centro de Estudos Galba Velloso (CEGV) para a redação de um texto a ser publicado na Revista do CEGV, quando da comemoração dos 50 anos de fundação desta entidade, encarei o desafio. Debrucei-me, com empenho, sobre esta tarefa de grande responsabilidade e espero corresponder, um pouco que seja, à confiança em mim depositada. Coube-me o tema da neurociência e a clínica, num recorte histórico sobre as inovações teóricas e suas aplicações no campo da clínica psiquiátrica, em Minas Gerais no último meio século. Tarefa nada fácil, dada a vastidão do tema, sua importância histórica, o peso do compromisso com a reprodução fiel na enunciação de conceitos e paradigmas que foram mudando no decorrer do tempo e pelo espaço disponível nas páginas da Revista.

Quando o CEGV foi fundado, em 1963, a psiquiatria mundial passava por profundas transformações que se refletiam na prática dos profissionais em Minas Gerais.[1] Não que essas transformações tenham se encerrado nesse período, pois a psiquiatria continua passando por grandes avanços, cada vez mais aceleradamente, nas três últimas décadas. É que, no início da década de 1960, havia uma grande diversidade de teorias e escolas psiquiátricas, umas muito divergentes das outras, com certa polarização entre algumas correntes: as organicistas clássicas (Kraepelin, Bleuler, Kretschmer, Clerambault e outros), as organodinamistas, sob a liderança de Henry Ey (1900-1977), na França, e as psicogenéticas, corrente iniciada, em 1936, pelo dinamarquês August Wimmer (1872-1937).[2] [3] Havia pouco em comum entre os “psicopatologistas” alemães, os “psicodinamistas” norte-americanos e os “psiquiatras sociais” britânicos.[4] Decorrera pouco mais de uma década da grande revolução na psiquiatria mundial com a descoberta da ação psicofarmacológica da clorpromazina nos grandes transtornos psiquiátricos, particularmente na esquizofrenia e na psicose maníaco-depressiva. A clorpromazina foi sintetizada por Paul Champentier, na França, em 1950. No ano seguinte, o cirurgião francês Henri Laborit a utilizou, com sucesso, como pré-anestésico. A descoberta da ação neuroléptica da clorpromazina foi proporcionada por dois grandes psiquiatras franceses, Jean Delay (1907-1987) e Pierre Deniker (1917-1998), em 1952, hoje devidamente entronizados no panteão da glória da história da psiquiatria mundial. Até então, os pacientes psiquiátricos, quase sem exceção, quando hospitalizados, ficavam em instituições por tempo excessivamente longo, em função da carência de métodos terapêuticos realmente eficazes no alívio de seu atroz sofrimento. O mundo dispunha, até 1952, de poucas drogas psicotrópicas com nítida ação benéfica sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), alterado por transtornos emocionais e comportamentais de monta. Dentre os medicamentos disponíveis, antes da década de 1950, podem ser citados o hidrato de cloral, os brometos, os barbitúricos, os opióides (ópio, morfina, heroína), as anfetaminas, a escopolamina (uma droga anticolinérgica) e derivados da rauwolfia serpentina, uma planta de cujo extrato se obtinha uma substância de ação anti-hipertensiva, antipsicótica e sedativa. Destacavam-se também os tratamentos baseados em métodos biológicos, como a insulinoterapia, a cardiazolterapia, a sonoterapia de Klaesi e o eletrochoque, todos, então, muito em voga.

Durante toda a década de 1960, no ambiente clínico-acadêmico do Hospital Galba Velloso (HGV) havia uma forte presença das grandes correntes teóricas da psiquiatria mundial, tais como: a- a psicopatologia fenomenológica de Karl Jaspers (1883-1869) [5], dos conceitos clínico-empíricos de Emil Kraepelin (1856-1926) e Kurt Schneider (1887-1967)[6], todos eles expoentes oriundos da Universidade de Heidelberg, na Alemanha; b- a clínica psiquiátrica de Eugen Bleuler (1857-1939) e de Manfred Bleuler (1903-1994) [7], da Burghölzli Klinik, de Zürick, que recebera grande influência da psicanálise freudiana[8]; c- do organodinamismo francês de Henry Ey[9], no qual se procurava também uma síntese do que havia de mais atualizado na psiquiatria clássica com os conceitos freudianos; d- a escola espanhola de Juan-José Lopez Ibor (1908-1991)[10], Manuel Cabaleiro Goás (1918-1977)[11] e Francisco Alonso Fernandez (1924- ), de forte influência fenomenológica[12]; e- da escola organicista centro-européia de Karl Kleist (1879-1960) e de Wilhelm Mayer-Gross (1889-1961); f- pela escola psicodinâmica norte-americana, que recebera forte influência da medicina psicossomática de Adolf Meyer (1866-1850) e da psicanálise culturalista de William Alanson White (1870-1934), Frieda Fromm-Reichman (1889-1957), Karen Horney (1885-1952), Harry Stack Sullivan (1892-1949), Clara Thompson (1893-1958), Erich Fromm (1900-1980) e Erik Erikson (1902-1994)[13]; g- a influência da psiquiatria social de Maxwell Jones (1907-1990), bem antes da chegada até nós das teorias antipsiquiátricas do norte-americano Thomas Zsaz (1920-2012), do escocês Ronald Laing (1927-1989) e do sul-africano/britânico David Cooper (1931-1986). As idéias de Maxwell Jones sobre comunidade terapêutica receberam ampla acolhida, tendo sido utilizadas técnicas psicodramáticas e sociodramáticas em certos pacientes de longa permanência em instituição, particularmente psicóticos.[14] Também exerceram grande influência, no período, a teoria e os métodos do psiquiatra e psicanalista argentino, com grande experiência em comunidade terapêutica, Emílio Rodrigué (1923-2008).[15] Os métodos de psicodrama de Jacob Moreno (1889-1974), logo também tiveram aceitação e se popularizaram em ambiente de comunidade terapêutica. Essas correntes aqui apontadas também exerceram grande influência na psiquiatria praticada em outras instituições e hospitais mineiros.[16]

Sob a direção de Jorge Paprocki (1926- ), o HGV fervilhava com todas essas ideias que formaram uma numerosa geração de psiquiatras, muitos ainda bastante atuantes no ensino, na pesquisa e na clínica. Paprocki, antes de assumir a diretoria do HGV, exercera a clínica em Juiz de Fora e Belo Horizonte, onde se destacara por suas pesquisas na área de terapêuticas biológicas (eletrochoque sob anestesia e curare) e na psicofarmacologia, área das neurociências que então engatinhavam. Muitas pesquisas com psicofármacos foram realizadas no HGV no período 1963-1971, considerado um período de ouro na história da psiquiatria mineira. Paprocki trouxe uma metodologia de investigação e pesquisas mais apuradas, baseadas na redução fenomenológica e psicopatológica jasperianas e com a utilização de escalas de avaliação e mensuração, então uma novidade em nosso meio acadêmico e clínico.[17] Além de sua formação dentro dos princípios da psiquiatria fenomenológica alemã clássica e no organodinamismo de Ey, Paprocki trouxe também para o HGV uma forte influência da psiquiatria psicogenética, na medida em que introduziu no hospital técnicas baseadas na psicanálise da escola de Igor Caruso, então chamada de Psicologia Profunda.

A partir de 1963, Paprocki, ao lado de diversos outros psiquiatras, clínicos e psicólogos, como Djalma Teixeira de Oliveira, Jarbas Moacir Portela, Elba Duque, Eunice Rangel, Célio Garcia, Antônio Ribeiro e Elias Hadad, submetiam-se a análise com Malomar Lund Edelwaiss (1917-2010). Malomar, sacerdote e profundo interessado por psicanálise, oriundo de Pelotas (RS), havia se submetido a análise com Igor Caruso (1914-1981), em Viena, na primeira metade da década de 1950. Igor Caruso, ítalo-russo, fora analisado por August Aichhorn, um discípulo de Sigmund Freud, em 1943. Entre 1944 e 1945, Caruso submeteu-se a análise com Viktor von Gebsattel, um expoente do pensamento psiquiátrico e psicanalítico e orientação católica.[18] Tanto Aichhorn como von Gebsattel haviam também sido submetidos a análise com Paul Federn, discípulo da primeira geração de Freud. Logo após a II Guerra Mundial (1947), Caruso fundou uma sociedade psicanalítica em Viena à qual denominou de Círculo Vienense de Psicologia Profunda, uma dissidência da International Psychoanalitic Society (IPA). Esta sociedade abrigava associados de variadas orientações teóricas como: psicologia analítica e existencial, psicologia genética, filosofia, etologia, antropologia e outras áreas do pensamento da época. Inicialmente, havia uma estreita interlocução com grupos cristãos. Posteriormente, afastou-se deles e se aproximou de teóricos ligados à Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Erich Fromm) e, em seguida, de Herbert Marcuse, Ernest Bloch, Norman Brown, Jean Paul Sartre. Por consequência, manteve contato também com autores marxistas (Marx, Engels, Lukács, Reich, Gabel, Gorz e outros).18 19 20 33

Seu discípulo Malomar, ao lado de Francisco Vidal, Gerda Kronfeld e Sigfried Kronfeld, fundaram o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, em 1956, em Pelotas. Mesmo tendo a oportunidade de submeter-se à formação analítica em Buenos Aires, cidade próxima ao Rio Grande do Sul, onde se sobressaíam psicanalistas como Pichón-Rivière, Marie Langer e Angel Garma, o grupo aderiu às ideias de Caruso por este fazer a interlocução da psicanálise com idéias existencialistas e católicas.[19] Algum tempo depois, a entidade aproximou-se mais de Freud, sem abandonar completamente suas influências anteriores, e mudou seu nome para Círculo Brasileiro de Psicanálise. Quando veio para Minas, em 1963, Malomar fundou o Círculo Mineiro de Psicologia Profunda, que, por sua vez, mudou de nome, em 1970, quando passou a se denominar Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG).[20]

O CPMG exerceu uma influência marcante na psiquiatria mineira, notadamente nas décadas de 1970 e 80. Distinto, porém com relações próximas da escola psicodinâmica norte-americana, mantinha uma visão freudiana bastante psicogenética e sociogenética dos transtornos psiquiátricos.[21] Alguns de seus membros se aprofundaram em estudos e publicações sobre psicologia social e psiquiatria social. Jarbas Moacir Portela desenvolveu estudos sobre a relação psiquiatra-paciente em três distintos ambientes: a clínica privada, a instituição pública de previdência social e o hospital público para atendimento gratuito de pacientes de baixa renda. Constatou aí um diferencial de atitudes e papéis, bem como de propostas terapêuticas, por parte do médico, assim como distintas posturas dos pacientes em cada uma dessas situações (no primeiro caso, constatou um processo de equilíbrio social, cultural e empatia através de identificações projetivas e introjetivas, na clínica privada; no segundo caso, constatou uma relação impessoal, fria, sem empatia, na qual prevalecia o exercício dos direitos dos pacientes frente à instituição; no terceiro caso, constatou uma atitude de passividade, submissão e gratidão dos pacientes pela assistência recebida), revelando, em nosso meio, um dos primeiros estudos de psiquiatria transcultural.[22] Célio Garcia, por sua vez, aprofundou-se em estudos psicossociais, já com forte influência de Roger Bastide, Max Pagès, Michel Foucault, Ronald Laing e outros, antecipando-se, ainda na década de 1960, aos movimentos de psiquiatria social e antipsiquiatria que se destacaram nas duas décadas seguintes.[23]

Jorge Paprocki dedicou-se à pesquisa em psicofarmacologia durante mais de cinco décadas. Em decorrência de seu trabalho e de alguns outros psiquiatras, os conhecimentos das neurociências começaram a chegar a Minas Gerais. Anteriormente, a utilização dos psicofármacos na clínica psiquiátrica era baseada unicamente em critérios empíricos. Ainda na segunda metade da década de 1960, antes e após a criação da Residência de Psiquiatria no HGV, em associação à Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, algumas das descobertas pioneiras em psicofarmacologia começaram a ser estudadas e debatidas nos meios clínicos, acadêmicos e hospitalares mineiros, com participação ativa dos membros do CEGV. Vejamos alguns dos marcos históricos paradigmáticos das grandes mudanças pelas quais passava a psiquiatria mundial e, por consequência, a psiquiatria mineira.

Os transtornos do humor sempre estiveram entre as mais frequentes e difundidas patologias emocionais. Poucos transtornos são mais incapacitantes e levam a mais sofrimento ao ser humano do que eles. O avanço em seus tratamentos, seja com medicamentos para combater a depressão ou a mania, seja com a utilização dos estabilizadores do humor, representou um dos mais revolucionários métodos de enfrentamento das doenças na história da medicina. Na década de 1950, considerada a “década de ouro” da psicofarmacologia, já se sabia que extratos das raízes da planta Rauwolfia serpentina, conhecida da Humanidade desde a Antiguidade, eram capazes de tratar alguns transtornos médicos, dentre eles a hipertensão arterial, as psicoses, dentre elas a esquizofrenia, a agitação, a ansiedade e a insônia. Dentre as substâncias encontradas nesta planta está o alcalóide reserpina. Durante esta década, a reserpina foi utilizada no tratamento da esquizofrenia, notadamente por psiquiatras germânicos. Entretanto, ela era responsável por um efeito colateral dos mais importantes, o humor depressivo, com relato até de casos de suicídio. A ligação da reserpina com a depressão era desconhecida até finais da década de 1950. Nesses anos, após sucessivas descobertas relacionadas à neuroquímica e à farmacologia, cientistas norte-americanos e suíços confirmaram que a reserpina e outros compostos produzem a liberação de serotonina no cérebro, plaquetas e intestino. Esta substância já era conhecida no organismo desde a década de 1910. Liberada a serotonina, uma das consequências imediatas é a sua destruição por determinadas enzimas o que acarretava a redução de seus estoques corporais, particularmente no cérebro. Isso fez levantar imediatamente a hipótese de que a redução de serotonina estivesse vinculada à depressão, mas faltavam maiores evidências para tal postulação.[24]

Em 1957, duas grandes descobertas levaram a um grande avanço nas terapêuticas psiquiátricas da depressão. Ao pesquisar a ação de uma substância tuberculostática derivada da isoniazida, a iproniazida, o cientista norte-americano Nathan Kline (1916-1983), partindo de pesquisas de outros cientistas, verificou que ela apresentava um nítido poder antidepressivo em pacientes tuberculosos deprimidos. Tanto a isoniazida, quanto a iproniazida, mais esta que aquela, eram conhecidas como inibidoras de uma enzima denominada monoaminoxidase (MAO). Cogitou-se que esta enzima pudesse estar vinculada à depleção cerebral de serotonina, exercendo papel semelhante ao da reserpina.  Teria, então, a iproniazida, substância inibidora da MAO (IMAO), uma ação antidepressiva. Em 1952, o cientista teuto-suíço Robert Domenjoz (1908-2000), diretor de farmacologia do Laboratório Geigy, posteriormente, diretor do Instituto de Farmacologia da Universidade de Bonn, ficou impressionado com as pesquisas de cientistas do laboratório francês Rhône-Poulenc, em colaboração com cientistas do Instituto Pasteur, em Paris, com substâncias de ação anti-histamínica, que apresentavam nítida ação sedativa e hipnótica. Dedicou-se, então a pesquisar novas substâncias derivadas da iminodibenzila, descoberta pelos químicos alemães Thiele e Holzinger em 1898, cuja molécula apresenta similaridades com a da fenotiazina, no intuito de avaliar seu potencial como droga antipsicótica. Os auxiliares de Domenjoz chegaram a um produto chamado, então, por G-22150, com nítida ação hipnótica e sedativa. Descobriu-se que, ao se alterar os radicais laterais do núcleo de três anéis benzênicos desta molécula da iminodibenzila, novos produtos eram obtidos com ações diferentes, incluindo ativação de funções do SNC em animais de laboratório. Um desses novos derivados, o G-22355, com uma cadeia lateral idêntica à da clorpromazina, foi entregue por Domenjoz ao cientista suíço Roland Kuhn (1912-2005), do laboratório Geigy, para investigações mais aprofundadas, em 1956. Ao pesquisar este derivado da iminodibenzila no tratamento de pacientes esquizofrênicos deprimidos, Kuhn descobriu importantes efeitos na melhora dos seus sintomas do humor, decorrentes de certa ação anti-reserpínica. O nome da nova droga: imipramina. No ano da graça de 1957, estava descoberta uma nova linhagem de medicamentos antidepressivos, os tricíclicos. Assim como ocorrera com a clorpromazina, a imipramina foi submetida a uma enorme quantidade de estudos, com milhares de publicações, fato que a tornou, quase que de imediato, uma droga universalmente conhecida. Um fato curioso nesta história: Roland Kuhn foi um profissional que mantinha fortes vínculos com a psicanálise, apesar de ser considerado um dos pioneiros da nova geração de “psiquiatras biológicos”, em função de seus vastos conhecimentos de química orgânica e bioquímica, notadamente após seu ingresso na Geigy, em 1954.24 [25]

Em 1959, Bernard Brodie (1907-1989), laureado cientista norte-americano, começou a desvendar o papel fisiopatológico das aminas biogênicas (noradrenalina e serotonina) na depressão, após estudos em animais de laboratório nos quais constatou que a imipramina inibia a absorção de noradrenalina pelos neurônios, o que impedia a sua destruição por enzimas. Na mesma ocasião, outro norte-americano, Julius Axelrod (1912-2004) demonstrou claramente uma redução na captação de noradrenalina nos terminais sinápticos durante o tratamento com antidepressivos tricíclicos o que confirmava sua ação de estimulação noradrenérgica. Em 1970, pelas suas contribuições ao conhecimento dos mecanismos da neurotransmissão, Axelrod foi galardoado com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, ao lado de seus colegas Bernard Katz e Ulf von Euler.18

Esses cientistas abriram o caminho para a grande postulação sobre a fisiopatologia das depressões, conhecida como a “hipótese catecolaminérgica”. Foi, inicialmente, proposta por Joseph Jacob Schildkraut (1934-2006), professor e pesquisador em Harvard, em 1965. Ele baseou-se na ação inibitória da iproniazida sobre a MAO, no bloqueio da recaptação sináptica da noradrenalina pela imipramina e no fato da reserpina, um alcaloide que provoca esvaziamento da noradrenalina nos terminais sinápticos, levar a depressão. Sua hipótese sobre o mecanismo biológico da depressão está baseada na queda do nível de catecolaminas, particularmente da noradrenalina, na fenda sináptica e em importantes receptores adrenérgicos. Por outro lado, o excesso de tais aminas nesta região pode estar associado à elação (excitação maníaca).[26]  [27] [28] [29] [30] 50

Em 1968, o cientista sueco Arvid Carlsson e colaboradores, e, em 1970, os russos Izyaslav P. Lapin e Gregory F. Oxenkrug postularam a “hipótese serotonérgica” como causa da depressão, baseada na depleção da serotonina na fenda sináptica de algumas regiões do cérebro, em decorrência da inibição de sua recaptação, provocada por antidepressivos tricíclicos. Inicialmente proposta como contrária à hipótese catecolaminérgica, com o tempo as duas hipóteses se agruparam e se tornaram um construto unificado. Carlsson recebeu a honraria do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2000, ao lado de Paul Greengard e Eric Kandel, pelas suas valiosíssimas contribuições ao conhecimento dos mecanismos de transdução no SNC.28 29 30 50

Em 1975, mais um grande passo foi dado no sentido de se consolidar a hipótese catecolaminérgica. Após extensos estudos de cientistas norte-americanos e europeus, Solomon Snyder, da Universidade Johns Hopkins, e Philip Seeman, da Universidade de Toronto, ambos com seus respectivos colaboradores, postularam a “hipótese dopaminérgica” para a compreensão da fisiopatologia das psicoses. Basearam-se em estudos que revelaram haver uma íntima relação entre o grau de intensidade das ligações do haloperidol [h3] com os receptores D2 no núcleo caudado e sua potência antipsicótica. Uma série de outros estudos revelou que os demais antipsicóticos mantêm um grau variável de bloqueio dos receptores dopaminérgicos D2, D3, D4, e outros, variando de acordo com seu grau de potência antipsicótica.24 25 26 27 28 29 30 [31] 32 50

O impacto dessas descobertas na psiquiatria mundial foi imediato e, como não poderia deixar de ser, também em Minas Gerais, onde numerosos grupos distintos de psiquiatras se dedicavam à clínica e à pesquisa com psicofármacos. Entretanto, logo surgiu uma questão, levantada pelos críticos da metodologia de tratamentos psicofarmacológicos dos transtornos psiquiátricos. Correntes psicanalíticas, que exerciam grande influência sobre a psiquiatria nas décadas de 1960 e 70, consideravam a depressão como uma manifestação sintomatológica de alguns conflitos internos na personalidade. De acordo com esse ponto de vista, tais condições revelavam mesmo características positivas, na medida em que elas eram uma forma de externalizar uma série completa de conflitos subconscientes e traumáticos, supostamente processados pelo próprio paciente. Assim, o tratamento farmacológico dos sintomas depressivos, como ocorreria posteriormente com os transtornos de ansiedade, era visto, por parte da comunidade psiquiátrica, como um grave erro, já que impediria os pacientes de descobrirem as raízes “verdadeiras” de seus conflitos internos. Entretanto, prevaleceu a impressão de que as principais contribuições das descobertas dos antidepressivos e antipsicóticos para o desenvolvimento da psiquiatria foram de duas categorias: uma de natureza de saúde social que consistiu numa autêntica mudança de paradigmas nos cuidados psiquiátricos de pacientes depressivos e psicóticos; a outra, de natureza puramente farmacológica, já que esses agentes se tornaram um instrumento indispensável para a neurobiologia e a psicofarmacologia, o que permitiu, entre outros avanços, a postulação das primeiras hipóteses etiopatogênicas dos transtornos depressivos e psicóticos. Essas duas considerações foram suficientes para consagrar as terapêuticas psicofarmacológicas como fatores fundamentais nos tratamentos, levando a uma verdadeira revolução na psiquiatria. 24 25 26 27 28 29 30 31 [32] 50

De acordo com os cânones da escola psicogenética e em decorrência da forte influência psicanalítica sobre parte dos psiquiatras em Minas Gerais, durante as décadas de 1970 e 80, os tratamentos psiquiátricos que não fossem baseados na psicoterapia analítica eram vistos com certa reserva. Havia mesmo quem considerasse o tratamento com psicofármacos “evidência de psicoterapia não bem feita”.[33] Assim, a psicofarmacoterapia era ignorada ou colocada em plano muito secundário pelos grupos vinculados à escola psicodinâmica. Marcio Vasconcelos Pinheiro, com formação no Instituto de Psiquiatria da Universidade de Maryland, um dos expoentes da psiquiatria psicodinâmica em Minas Gerais, no período, descreveu em um de seus esclarecedores textos que “acreditava-se que, para fazer psicoterapia com esquizofrênicos, por exemplo, os melhores terapeutas eram os que estavam próximos à desordem, com uma sensibilidade especial, de preferência uma esquizoidia criativa.”33 Pinheiro esteve muito próximo da psiquiatria norte-americana nas décadas de 1960/70, quando a escola psicodinâmica exercia aí uma influência quase total. No início da década de 1970, ele percebeu que a psiquiatria americana passava por substanciais mudanças. Da influência psicodinâmica ela abraçava abertamente uma psiquiatria cada vez mais biológica, influenciada pelos avanços das neurociências, com um aumento considerável na prescrição de psicofármacos. Ao voltar para Belo Horizonte, em 1974, Marcio Pinheiro, ficou impressionado com o que viu, pois aqui ocorria exatamente o contrário.  A influência das escolas neuropsiquiátricas clássicas dava lugar, em diversos grupos psiquiátricos do Estado, à escola psicogenética, particularmente em decorrência da influência do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Inúmeros profissionais submetiam seus pacientes, incluindo os psicóticos, a atendimento psicanalítico clássico, com várias sessões de análise por semana. Desenvolveu-se, em alguns centros, um ambiente de comunidade terapêutica, além de técnicas de socioterapia, ambientoterapia e grupoterapia. Havia também uma crescente influência das correntes sociais da psiquiatria, a escola chamada de “sociogenética”. De alguma forma, o que ocorrera no Exterior, particularmente nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, vinte anos antes, chegava a Minas Gerais com grande impacto e divulgação. 18 19 20 33

Por outro lado, o desenvolvimento da psicofarmacologia propiciou avanços na prática clínica da psiquiatria mineira. O tempo de permanência na hospitalização de pacientes foi reduzido consideravelmente. Com uma média aproximada de permanência por 45 dias em internamento hospitalar, nas décadas de 1950/60, esse índice baixou para uma média de 21 dias em fins da década de 1970. Foi após a maciça difusão da psicofarmacoterapia no Brasil e, particularmente, em Minas Gerais, que ocorreu de fato a desospitalização do paciente psiquiátrico. A melhora dos quadros agudos de psicoses, depressão e transtornos de ansiedade, gerando alívio nos sintomas, trouxe grande progresso nos processos psicoterapêuticos, muitas vezes travados em função dessas crises. Houve sensível melhora na qualidade de vida dos pacientes, maior produtividade no trabalho e estudos e muito melhor convivência social e familiar. A resistência à psicofarmacoterapia foi reduzindo paulatinamente até que, a partir da década de 1990, seus adversários foram reduzidos a determinados grupos esparsos e pouco significativos. Além dessas, outra consequência benéfica para a clínica psiquiátrica foi a necessidade percebida pelos psiquiatras mineiros de aprimoramento de suas técnicas diagnósticas. Com diagnósticos mais precisos, baseados numa boa propedêutica psicopatológica e clínica, o psiquiatra pode ser mais bem direcionado para um determinado tratamento psicofarmacológico, com uma droga específica, a fim de que os resultados de melhora clínica pudessem ser mais rápida e efetivamente observados.

A introdução na pesquisa psicofarmacológica e, posteriormente, na clínica de escalas de avaliação psiquiátricas levou a uma maior precisão diagnóstica com a consequente indicação de tratamentos mais adequados e eficientes para cada caso. Havia uma fragilidade muito grande nos diagnósticos formulados até então. Muitas vezes, o diagnóstico de um profissional não era acompanhado pelo diagnóstico de outro. Diferentes formações teóricas dos psiquiatras podiam levar a diagnósticos completamente diferentes nos mesmos pacientes. A utilização dessas escalas melhorou de tal forma o arsenal de informações para nossos psiquiatras, que diagnósticos muito mais precisos e corretos puderam ser feitos. Esses diagnósticos podiam, a partir dessa época, ser melhor confrontados já que baseados em critérios mais sólidos e uniformes. A influência do que ocorria nos Estados Unidos e na Europa Ocidental no uso dessas escalas dá-nos bem a medida da questão. Há muito se sabia que psiquiatras norte-americanos diagnosticavam muito mais quadros de esquizofrenia do que os psiquiatras britânicos. Estes, por outro lado, diagnosticavam muito mais quadros psicóticos maníaco-depressivos do que seus colegas norte-americanos. Em vista dessas distorções subjetivas, isto é, diagnósticos baseados em conceitos não muito precisos e muito particulares a cada cultura, havia muita imprecisão nos diagnósticos e, consequentemente, nas terapêuticas. Assim, os resultados benéficos dos tratamentos estavam muito aquém do que poderia ser esperado. Em vista dessas deficiências nosológicas, entidades psiquiátricas desses dois países se reuniram e decidiram criar normas para maior precisão e unificação dos diagnósticos. Apesar da grita em contrário de profissionais de correntes psicogenéticas e psicodinâmicas, que atribuíam a tal iniciativa a redução dos diagnósticos psiquiátricos a esquemas que poderiam ser enquadrados meramente como classificações “botânicas”, sem qualquer conotação humana ou emocional, os resultados de tais iniciativas foram tão bem sucedidos no aprimoramento das técnicas diagnósticas, que logo passaram a ser adotadas não somente por alguns de nossos pesquisadores, mas também por muitos dos psiquiatras clínicos em suas práticas hospitalares e privadas. A escala mais antiga usada em nosso meio foi a Escala de Hamilton para Depressão, cuja versão final é de 1960.[34] Nos mesmo período, surgiu uma escala que logo se popularizou por todo o mundo, incluindo Minas Gerais, para avaliação geral de transtornos psiquiátricos, a British Psychiatric Rating Scale (BPRS), de Overall e Gorham, com ampla aplicação em hospitais e ambulatórios, seja para pesquisas, seja para a clínica.[35] Surgiram outras escalas para depressão, como em 1972, a Escala Zung de Auto-Avaliação e, em 1979, a Escala de Montgomery-Åsberg, esta mais utilizada em pesquisas psicofarmacológicas.[36] A partir de 1979, a Escala Beck para Depressão, esta também de auto-avaliação, passou a ser amplamente utilizada, o que facilitou muito o diagnóstico psiquiátrico.

Paralelamente ao desenvolvimento das escalas de avaliação psiquiátricas, foram se desenvolvendo critérios de diagnósticos mais precisos. As primeiras tentativas, usadas apenas por um número restrito de pesquisadores mineiros voltados para a área da pesquisa psicofarmacológica, foram: Critérios Diagnósticos de Feighner e colaboradores, da Universidade de Washington, em Saint Louis. Nela, foram desenvolvidos 16 critérios básicos de categorias diagnósticas para depressão.[37] Em 1977, surge o Research Diagnostic Criteria (RDC), de Spitzer, Endicott e Robbins, da Universidade de New York, que englobava 21 categorias diagnósticas gerais da psiquiatria.[38] Em 1978, foi desenvolvido por Spitzer e Endicott, no Instituto Estadual de Psiquiatria de Nova York, o Roteiro para Distúrbios Afetivos e Esquizofrenia (SADS), entrevista estruturada, cujos escores podiam ser processados em computador e apresentar importante contribuição ao diagnóstico psiquiátrico, notadamente das depressões.[39] Ele foi baseado fundamentalmente nos critérios diagnósticos do RDC, tendo sido a base para o desenvolvimento das modernas entrevistas estruturadas norte-americanas. Esses pesquisadores logo lideraram um movimento da American Psychiatric Association (APA) no sentido de reformular o velho Manual Diagnóstico e Estatístico Versão II (DSM-II), de 1968, já completamente defasado em função do desenvolvimento e das novas descobertas no campo da psiquiatria. Esse movimento terminou na criação do Manual Diagnóstico e Estatístico Versão III (DSM-III), em 1980, que mudou completamente os critérios diagnósticos até então existentes. Os diagnósticos, muito frequentes até então, de “reação esquizofrênica” e “reação maníaco-depressiva”, herança da escola psicogenética, foram substituídos por critérios diagnósticos mais rigorosos, com nítido retorno aos princípios fenomenológicos e kraepelinianos. Oito anos depois, a APA, revisou e ampliou este manual.[40] Essas novas categorias diagnósticas transformaram inteiramente o panorama da psiquiatria mundial, com amplas repercussões aqui em Minas Gerais. A Organização Mundial de Saúde, que ainda utilizava o seu Código Internacional de Doenças – Versão 9 (CID-9), datado de 1975, em função de seu obsoletismo, atualizou seus critérios, baseando-se no DSM-III, e, em 1993, lançou a CID-10, o que trouxe para nossos psiquiatras um conjunto de critérios muito mais precisos e confiáveis de diagnóstico.[41]

O maior impacto que o avanço da ciência trouxe para a psiquiatria mineira foi, indiscutivelmente, trazido pelas neurociências. Em realidade, esta área do conhecimento humano tivera início no século XIX, com os primeiros experimentos e descobertas da psico e da neurofisiologia, da neuropatologia, da histopatologia, da farmacologia, da neuropsiquiatria e da neuropsicologia. Na primeira metade do século XX os avanços se sucederam numa marcha ainda mais intensa. Só para referenciar os fatos mais importantes e para não cansar demais os leitores, assinalo aqui apenas os mais significativos. Os primeiros neurotransmissores, como a noradrenalina, foram descobertos em 1911 por George Barger e Henry Dale, nos Estados Unidos. Em 1914, Dale descobriu a acetilcolina. Em 1929, Hans Berger, na Alemanha, publica seus achados sobre o primeiro eletroencefalograma humano. Em 1929, Walter Cannon, nos Estados Unidos, formula seu conceito sobre homeostasia. Em 1930, John Eccles, na Inglaterra, revela o mecanismo da inibição central dos reflexos flexores, passo inicial para a descoberta da eletrofisiologia do neurônio. Em 1931, Max Knoll e Ernst Ruska, na Alemanha, inventam o microscópio eletrônico, de fundamental importância nos futuros estudos do cérebro. Em 1932, Edgar Adrian e Charles Sherrington, da Inglaterra, dividem o Prêmio Nobel por suas descobertas sobre as sinapses e as transmissões neuroquímicas. Em 1936, o neurocirurgião português António Egas Moniz publica seus experimentos pioneiros sobre a lobotomia frontal em humanos, o que o levou a ser galardoado com o Prêmio Nobel de Medicina de 1949, até agora o único obtido por um autor de língua portuguesa na área das ciências. Em 1936, Henry Dale e Otto Loewi dividem o Nobel pelo seu trabalho com a neurotransmissão. Em 1937, James Papez (EUA) publica seu trabalho sobre o sistema límbico e, no ano seguinte, sua “teoria visceral” da emoção. Em 1937, John Zachary Young sugere que os neurônios gigantes da lesma (Aplysia) poderiam ser usados com facilidade para a compreensão das células nervosas, fato que acelerou o avanço da biologia celular e molecular. Em 1938, Ugo Cerletti e Luciano Bini, na Itália, publicam os resultados de seus tratamentos com eletrochoque em pacientes esquizofrênicos, mudando o rumo da terapêutica psiquiátrica. Em 1949, Horace Winchell Magoun descreve o sistema reticular ativador ascendente e, neste mesmo ano, associado a Giuseppi Moruzzi publica uma obra seminal: Formação Reticular do Tronco Cerebral e a Ativação do EEG. Em 1949, a origem neurológica das emoções tem enorme avanço com a ampliação da teoria de Papez por Paul MacLean, integrando-a à síndrome de Klüver-Bucy e à psicologia freudiana. Foram então dados passos fundamentais para se descobrir toda a ação do sistema límbico nas emoções que culminaram na descoberta do papel da amígdala nesse setor.[42]  Em 1949, Donald Hebb, no Canadá, publica A Organização do Comportamento – Uma Teoria Neuropsicológica, o que deu enorme impulso à neuropsicologia. Em 1950, o neurofisiologista e neuropsicólogo norte-americano Karl Lashley publica Em Busca do Engrama, modificando os paradigmas na área da memória. Em 1950, o químico francês Paul Charpentier sintetiza a clorpromazina, uma nova droga antipsicótica, o que levou, dois anos após, ao surgimento da era da psicofarmacologia. Em 1952, nos Estados Unidos, a APA publica o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), a primeira tentativa de uma classificação mais moderna, após os trabalhos pioneiros e fundamentais de Emil Kraepelin, de 1903.

Mesmo assim, com todos esses avanços da ciência, aqui em Minas Gerais dispúnhamos de poucos métodos auxiliares para um diagnóstico psiquiátrico mais apurado e com menor margem de erros, até a década de 1970. A partir daí os acontecimentos se precipitaram e o avanço das neurociências foi avassalador. Continuamente os paradigmas até então considerados cláusulas pétreas das teorias da mente foram sucessivamente sendo derrubados com os novos conhecimentos advindos das novas tecnologias à disposição da medicina. Vejamos, apenas en passant, alguns dos mais importantes avanços a partir daí. Até então, dispúnhamos apenas de exames complementares muito limitados para o diagnóstico de transtornos neuropsiquiátricos. Os Raios-X, descobertos em 1895, por Wilhelm Roentgen, na Alemanha, ainda consistiam no principal método não invasivo de se avaliar lesões cerebrais ou quadros orgânicos. Sua limitação era patente e grande parte das patologias orgânicas cerebrais passavam ao largo de qualquer conhecimento por parte das equipes neuropsiquiátricas. Havia ainda o pneumoencefalograma, um exame por demais cruento para se avaliar lesões expansivas intracranianas, além de sua limitação. A arteriografia também era utilizada para se avaliar a rede arterial cerebral, para a detecção da possível presença de aneurismas ou outras alterações vasculares. Também era um método cruento e limitado, com relato na literatura de incontáveis mortes durante o exame em decorrência de reações imunológicas ao contraste iodado, além de terríveis cefaleias nas horas subsequentes ao exame.

A grande revolução no diagnóstico pelas neuroimagens começou em 1972, quando o engenheiro britânico Godfrey Hounsfield, seguindo descobertas de Allan Cormack, desenvolveu um método em que as imagens de Raios-X eram processadas em um computador de grande capacidade, gerando o que ficou conhecido como Tomografia Computadorizada Cerebral (TC). Pela primeira vez na história, o cérebro humano podia ser visto de forma semelhante a um atlas de anatomia, com detalhes até então jamais imaginados pela medicina. Cormack e Hounsfield, por sua extraordinária invenção, considerados quase que “benfeitores” da medicina, foram agraciados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 1979. Em 1981, Hounsfield tornou-se Cavaleiro do Império Britânico. A partir de 1981, Belo Horizonte recebeu seu primeiro tomógrafo computadorizado, que, desde então, tornou-se peça indispensável para o diagnóstico em psiquiatria.[43]

Entretanto, a TC mostrava-se ainda de pouca acurácia na observação de detalhes da estrutura do tecido neural, incapacitando o investigador ou o clínico de ver minúcias que poderiam ser fundamentais para o diagnóstico e tratamento das doenças. Tornava-se necessário o desenvolvimento de uma técnica mais aprimorada de observação da anatomia neural e ela surgiu com o desenvolvimento da ressonância nuclear magnética do cérebro. No final da década de 1930, um físico russo, naturalizado norte-americano, Isidor Rabi (1898-1988), posteriormente galardoado com o prêmio Nobel de Física, em 1944, desenvolveu sua invenção da corrente de ressonância magnética atômica e molecular, método para observar o espectro atômico. Com o progresso da física, havia sido detectado que os prótons nos núcleos dos átomos giravam em torno de seu próprio eixo, movimento chamado de spin. Os prótons e os elétrons em suas órbitas ao redor do núcleo de certos átomos formam dois pólos elétricos (dipolo), que são cargas elétricas opostas separadas por um espaço. Estes dipolos estão em constante movimento, o que forma um dipolo magnético norte-sul. Desde 1946, os cientistas norte-americanos Felix Bloch (1905-1983) da Universidade de Stanford, e Edward Purcell (1912-1997) de Harvard, vinham estudando a ação de campos magnéticos em núcleos de átomos, onde provocavam variados graus de absorção de energia em diferentes radiofrequências do espectro eletromagnético e re-emitiam esta energia quando os núcleos voltavam para o seu estado original. A força do campo magnético e a radiofrequência se entrecruzavam uma com a outra, como já havia sido demonstrado anos antes pelo físico irlandês, Sir Joseph Larmor (1857-1942). Posteriormente, na década de 1960, o químico norte-americano Paul Lauterbur (1929-2007) aprimorou a técnica adaptando-a para o estudo de tecidos humanos. Seu trabalho, publicado na revista Nature, em 1973, foi um dos marcos memoráveis das neurociências do século XX. Em 2003, Lauterbur foi agraciado com o Prêmio Nobel por sua espetacular descoberta, ao lado de Peter Mansfield (1933- ), o primeiro a desenvolver a utilização de gradientes no campo magnético.[44] [45] A ressonância nuclear magnética (RNM) tornou-se a principal técnica de rotina para diagnóstico de muitas doenças, substituindo e ultrapassando a TC. A RNM tem inúmeras vantagens, pois não é invasiva, não utiliza radiação ionizante e tem uma resolução nos tecidos menos densos muito elevada e ótima capacidade de discriminação em qualquer plano de imagem. A imagem que revela a morfologia dos tecidos cerebrais traz o detalhamento de um atlas anatômico.

Mas, os cientistas precisavam de técnicas mais avançadas na medicina, se possível que incluíssem estudos funcionais, a fim de avaliar a fisiopatologia dos transtornos. Pesquisas que utilizavam substâncias radioativas, cujas emissões identificavam seu trajeto no organismo, já estavam em andamento desde a década de 1960. Na neuropsiquiatria, os estudos pioneiros couberam aos psicólogos cognitivos Michael Posner e Steve Petersen e ao neuroradiologista Marcus Raichle. Desenvolveram um método baseado nos trabalhos do fisiologista holandês Franciscus Donders, de 1968, denominado de método de subtração. Esse método utiliza a subtração de um mapeamento cerebral obtido durante um determinado estado de comportamento cerebral de outro mapeamento feito durante um estado diferente de comportamento. Um mapeamento realizado enquanto um sujeito olhava para uma tela branca podia ser subtraído de um mapeamento feito quando o mesmo sujeito olhava a mesma tela com uma palavra escrita. O mapeamento fruto dessa subtração revelava um processo especificamente associado com a leitura.[46] Este é o princípio da detecção do funcionamento das funções cerebrais observado pela Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET-SCAN) e pela Ressonância Nuclear Magnética Funcional (fRNM). As duas técnicas permitem obter, para um determinado estado cerebral, uma cartografia tridimensional do fluxo sanguíneo (PET) ou do estado de oxigenação dos capilares (fRNM) utilizando um marcador (água radioativa com oxigênio 15 no PET, e desoxi-hemoglobina na fRNM). Uma ativação cerebral provoca localmente um aumento do fluxo sanguíneo sem aumento do consumo de oxigênio. A PET permite detectar os aumentos correspondentes do acúmulo local de água radioativa, e a fRNM as diminuições locais da concentração de desoxi-hemoglobina.[47] [48]

Essa tecnologia revolucionária permitiu aos cientistas mapear a ação de drogas no SNC, notadamente os psicofármacos, além de traçadores radioativos para o estudo das diversas patologias neuropsiquiátricas. Com ela, foi possível demonstrar, de forma inequívoca, o acerto das teorias catecolaminérgicas para transtornos psiquiátricos formuladas nas décadas de 1960/70. Através dela, as funções cognitivas puderam ser mais intensamente avaliadas. Todas as funções psíquicas têm sido intensamente investigadas e, em conjunto com a clássica psicologia cognitiva iniciada nas décadas de 1950/60, têm nos trazido tal volume de informações que uma nova área do conhecimento do cérebro se desenvolveu a partir da década de 1970: as neurociências cognitivas. Tais avanços repercutiram beneficamente em nossa prática clínica em Minas Gerais, na medida em que passamos a dispor de melhores indicações de tratamentos e orientações nas mais diversas patologias neuropsiquiátricas. Isso veio associado a uma nova visão sobre idéias biológicas mais recentes e mais profundas acerca da natureza dessas patologias.

Na década de 1990, a psiquiatria foi uma das áreas médicas incluídas no Projeto Genoma. Um dos principais pilares da “Década do Cérebro”, que adentrou por parte da década de 2000, trouxe contribuições fundamentais para a compreensão de parte dos mecanismos das doenças mentais. Hoje temos evidências inquestionáveis do papel da genética na gênese dos transtornos psiquiátricos. Mas surgiram também evidências não menos importantes do papel do meio ambiente nesse processo, a epigenética. A maioria das doenças mentais é causada por mais de um gene. Para a esquizofrenia já são conhecidos mais de 100.[49] Da interação entre genes e ambiente, em proporções que variam de transtorno para transtorno, temos uma complexíssima relação que ainda estamos longe de compreender mais profundamente. A biologia molecular e a genética têm nos trazido um volume de dados novos que tem provocado mais alterações de paradigmas no enfrentamento dos transtornos psiquiátricos.

Como descrito por Eric Kandel, o Prêmio Nobel em 2000, graças às suas descobertas fundamentais sobre a síntese de proteínas cerebrais quando dos processos de aprendizagem, a síntese da neurobiologia, da psicologia cognitiva, da neurologia e da psiquiatria tem nos trazido avanços de monta no conhecimento dos transtornos mentais. Para Kandel, “a psicologia cognitiva moderna nos revela que o encéfalo retém uma representação interna do mundo, enquanto a neurobiologia tem nos mostrado que essa representação pode ser entendida em termos de células nervosas individuais e de suas interconexões. Essa síntese tem nos dado uma perspectiva melhor sobre a percepção, ação, aprendizagem e memória. Ela também nos deixa com idéias biológicas novas mais profundas sobre a natureza dos distúrbios psiquiátricos.” Mais adiante, Kandel nos alerta que também “os avanços da biologia celular e da biologia molecular contribuíram para expandir nossa visão, o que nos permitiu perceber inter-relações que anteriormente não podiam ser antecipadas entre os fenômenos biológicos e psicológicos.”[50]

Todo este longo arrazoado teve por objetivo a exposição do que se tornou evidente a partir da década de 1980: o cérebro e a mente fazem parte de um todo indivisível. Ambos formam uma síntese e não podem ser compreendidos como partes separadas ou independentes. Compõem um conjunto harmônico, como uma grande orquestra afinada, melódica e ritmada. Voltamos aqui, portanto, à constatação formulada por Baruch Spinoza, no século XVII, como transcrito na epígrafe deste texto. Como foi constatado por Andreasen, as doenças mentais, apesar de seu componente físico, também são mentais. Elas são doenças que afetam a mente, não importa o quanto de cerebrais sejam. São doenças que afetam a maioria das capacidades humanas, como o ato de lembrar, pensar, sentir, interpretar informações, perceber o ambiente social, desvencilhar-se de tensões. Caso ignoremos a importância da mente nas doenças mentais, seremos levados à sua má compreensão e, certamente, seremos conduzidos ao erro. Caso sejam consideradas apenas doenças cerebrais, os pacientes poderão ser desumanizados e impessoalizados. O maior risco dos pacientes com doenças mentais é serem vistos como “casos” genéricos, tratados de forma simplista ou padronizada. O corpo, aí incluído o cérebro, pode ser tratado de forma genérica, mas as mentes são individualizadas e únicas. O paciente com uma doença mental requer que os seus sintomas sejam avaliados e tratados dentro do contexto de seus recursos pessoais, sociais, emocionais e intelectuais. As doenças mentais devem ser encaradas como transtornos da mente/cérebro. Não há mente com uma abordagem exclusiva do cérebro e não há cérebro com uma abordagem exclusiva da mente.[51]

Temos vencido em Minas Gerais, gradualmente, há mais de duas décadas, a dicotomia psicofármacos versus psicoterapia. Esta dicotomia é apenas uma falácia que esteve tão em voga nas décadas de 1970/80. É uma tentativa de dividir os transtornos psíquicos em mente e cérebro, cada um independente do outro. Muitas pessoas são enormemente beneficiadas com a psicoterapia, apoio ou orientação. Muitas são beneficiadas com a psicofarmacoterapia. Outras o são com ambas. O que as neurociências cognitivas nos revelam hoje é que a psicoterapia age sobre a mente e o cérebro. Quanto mais entendemos como funciona o cérebro e como ele muda em resposta à experiência, mais constatamos a eficácia da psicoterapia na mudança das funções da mente, como a emoção, a razão, a memória, o cálculo, o planejamento e as demais funções cognitivas. A ação sobre essas funções leva, por sua vez, à modificação das conexões e comunicações entre neurônios, num mecanismo conhecido como plasticidade neural. 42

A natureza da psicoterapia é ajudar as pessoas na modificação de sentimentos, pensamentos e comportamentos que não estejam em sintonia com seu bem-estar. Para tal, as diversas técnicas psicoterápicas, como as psicodinâmicas, cognitivas, comportamentais, psicossociais, têm se mostrado úteis e eficazes. Todas, ao trabalhar com os mecanismos de plasticidade neural, levam ao aprendizado de novas maneiras de responder e adaptar-se e, consequentemente, a mudanças no modo de sentir, pensar e ser comportar. Assim, a psicoterapia, à sua maneira, é também uma forma de terapêutica “biológica”, como o uso de psicofármacos e outros métodos físicos. Essa visão representa um dos grandes avanços da psiquiatria propiciados pelas neurociências.46  49 50

Como uma antecipação do que as neurociências hoje estabelecem como um dos novos paradigmas na psiquiatria, desde a década de 1980, diversos de nossos psiquiatras vem adotando uma postura psicoterápica mais aberta, flexível, eclética na medida do possível, multifacetada, fugindo do dogmatismo e do isolamento das escolas do pensamento teórico, tendo em vista um objetivo maior: a melhor qualidade de vida para os pacientes psiquiátricos.[52] [53] A herança das neurociências para a psiquiatria torna-se, assim, elemento crucial para o progresso que observamos em nossa especialidade neste último meio século em Minas Gerais. Tenho certeza que novos avanços, novos grandes voos estão por acontecer, quebrando outros paradigmas, vencendo antigos preconceitos e tabus, levando mais saúde e paz para quem sofre psiquicamente.

Referências Bibliográficas




[*] Ex-professor da Faculdade de Ciências Médicas de M.G; Ex-preceptor da Residência de Psiquiatria da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (FHEMIG); Ex-preceptor da Residência de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Terapeuta cognitivo-comportamental.





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