quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Tratamento do Transtorno do Pânico

O tratamento do transtomo de pânico envolve dois aspectos principais: medicamentos e terapia cognitivo­-comportamental. Iremos abordar de forma breve os principais grupos de medicamentos utilizados no transtomo de pânico e as linhas normativas mais importantes da psicoterapia cognitivo-comportamental.

Medicamentos Antidepressivos Tricíclicos

Os antidepressivos triciclicos foram os primeiros medicamentos utilizados no tratamento do transtomo de pânico. Os antidepressivos clássicos como os tricíclicos tiveram uma importante posição no tratamento farmacológico do transtorno do pânico e na concepção fisiopatológica do transtomo.

O alvo mais importante dos medicamentos é a melhora dos ataques de pânico, reduzindo a intensidade e a frequência dos ataques de pânico, controlando a ansiedade antecipatória e, quando necessário, tratando a depressão associada.

O primeiro estudo controlado documentando a eficácia do triciclico imipramina no bloqueio de ataques de pânico foi conduzido por Klein (Klein D, 1964). Desde então, diversos estudos controlados têm demonstrado que a imipramina é eficaz em reduzir os ataques de pânico. Após tratamento com imipramina, 45% a 70% dos pacientes encontraram-se sem ataques de pânico, comparado a 15% a 50% dos que receberam placebo. Ainda, os pacientes com transtomo do pânico que foram tratados com imipramina apresentaram menos esquiva fóbica e ansiedade antecipatória do que os que receberam placebo. De forma geral, os pacientes tratados com imipramina reconhecem uma redução substancial dos ataques de pânico após um tratamento mínimo de 4 semanas; mas os efeitos antipânico podem não ser completamente experimentados até 8 a 12 semanas de tratamento. A ansiedade antecipatória usualmente responde após a redução dos ataques de pânico e a esquiva fóbica é o último parâmetro a ser afetado.

Os principais eventos adversos relacionados às medicações tricíclicas e reportados nos estudos de tratamento do transtorno do pânico são: 1) anticolinérgicos - boca seca, constipação, dificuldade em urinar, aumento da frequência cardíaca e visão turva; 2) aumento da sudorese; 3) distúrbios do sono; 4) hipotensão ortostática e tonteira; 5) fadiga e fraqueza; 6) distúrbios cognitivos; 7) ganho de peso, especialmente no uso a longo-prazo; 8) disfunção sexual.

Entre os tricíclicos, a imipramina e clomipramina têm sido mais estudados. As duas drogas são eficazes no tratamento do transtomo do pânico e os pacientes se beneficiam em relação aos aspectos cIínicos mais importantes, incluindo os ataques de pânico, ansiedade antecipatória e comportamento de esquiva fóbica. Esta melhora não é dependente do tratamento dos sintomas afetivos concomitantes.

Antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS)

Os ISRS são uma opção mais segura em relação aos tricíclicos para o tratamento do transtorno de pânico. Tal fato deve-se ao seu perfil favorável de eventos adversos e segurança em super dosagens. A literatura tem acumulado uma extensa quantidade de trabalhos científicos envolvendo os ISRS e este grupo vem atingindo crescente popularidade entre os pacientes e profissionais envolvidos no tratamento do TP. O objetivo primário do tratamento com ISRS no TP é reduzir a intensidade e frequência dos ataques de pânico, reduzir a ansiedade antecipatória e tratar uma síndrome depressiva associada.

Os ISRS atualmente disponíveis são: paroxetina, sertralina, fluvoxamina, fluoxetina e citalopram. Todos os ISRS parecem bloquear os ataques de pânico.

As causas mais comuns de descontinuação precoce dos ISRS são os eventos adversos gastrointestinais. Estes incluem náusea, diarréia, pirose, cólica e outros sintomas de sofrimento gastrointestinal. Pelo menos 10% a 20% dos pacientes recebendo tratamento com ISRS queixam-se de insônia, inquietude e agitação durante o curso do tratamento. Por outro lado, alguns pacientes podem apresentar sedação com o uso dos ISRS. Diante deste evento adverso, pode-se administrar a dose da medicação por volta das 20:00 horas, igualando o nivel de pico plasmático com o ótimo momento de sedação (por volta de 2:00 horas da manhã).

Nos anos recentes, tem-se tornado evidente que os efeitos de disfunção sexual secundários ao tratamento com ISRS constituem um problema bem maior do que previamente reconhecido. Estudos demonstram que a incidência de disfunção sexual - incluindo ejaculação retrógrada, anorgasmia, impotência e redução da libido - esteja em torno de 30% a 40% para todos os ISRS. Algumas acomodações em relação aos eventos sexuais ocorrem em alguns pacientes, mas esta melhora pode levar meses ou anos.

Benzodiazepinicos

Os benzodiazepínicos, principalmente o clonazepam e o alprazolam, são eficazes no tratamento do transtorno de pânico, obtendo-se controle dos ataques de pânico e redução da ansiedade antecipatória e esquiva fóbica associadas. Os benzodiazepínicos devem ser utilizados sem associação a outros grupos de medicamentos anti-pânico.

A escolha de um benzodiazepínico depende da potência, da meia-vida e de evidência de eficácia por estudos clínicos.

Os benzodiazepínicos produzem sedação, aumentam os efeitos do álcool, podem produzir ataxia e associam-se a dependência e abstinência. A abstinência de benzodiazepínicos pode ocorrer até mesmo após 4-8 semanas de uso, sendo mais frequente após o uso de alprazolam, devido ao tempo de meia-vida mais curto. Outros efeitos colaterais trazidos pelos benzodiazepínicos são prejuízos cognitivo-motores, defeitos de memória, fadiga e fala pastosa. Entre as vantagens do uso de benzodiazepínicos no TP podemos enumerar: rápido inicio de ação, eficácia em outros transtornos de ansiedade e melhora do sono.

A prevenção da dependência está relacionada a uma boa relação médico-paciente, sendo estes advertidos dos riscos existentes para obedecer a um plano de tratamento adequado às necessidades clinicas de eliminação de sintomas do transtorno de ansiedade generalizada que é, normalmente, cíclico e recidivante.

Terapia Cognitivo-comportamental

A Terapia Cognitivo-comportamental é uma abordagem psicoterápica que se propõe a tratar uma série de problemas psicológicos, com base em alguns pressupostos teóricos oriundos de estudos que utilizam o método cientifico para o seu desenvolvimento. Um dos pressupostos básicos é o de que os nossos sentimentos e comportamentos são em grande parte determinados pela forma como pensamos, ou seja, a nossa interpretação dos fatos tem um papel preponderante na formação e/ou manutenção dos vários transtornos psicológicos.

Por sua vez, a forma como interpretamos as variadas situações está relacionada a visão que temos de nós mesmos, do mundo e do futuro, as nossas crenças centrais. A Terapia Cognitivo-comportamental tem como um de seus objetivos identificar as crenças centrais do paciente e submetê-Ias ao teste de validade, ou seja, contrastá-Ias com a realidade e verificar até que ponto são verídicas ou não. Além de identificar as crenças do paciente, é preciso avaliar todos os problemas por ele apresentados e verificar como se relacionam entre si, tentando desenvolver uma teoria que se proponha a explicar o funcionamento daquele paciente. A essa teoria damos o nome de formulação de caso. A teoria é então testada através de experimentos elaborados com o paciente e um plano de tratamento é traçado.

O estudo do transtorno de pânico dentro de uma perspectiva cognitivo-comportamental tem se mostrado bastante frutifero. De forma geral parte-se do pressuposto que o paciente com transtorno de pânico apresenta medo do medo. A teoria envolvendo o condicionamento pavloviano interoceptivo mostra que diante de um ou mais ataques de pânico o paciente passa a ficar mais atento aos seus sinais corporais de aumento de ansiedade e começa a interpretar qualquer alteração autonômica menor como indicativa de um ataque iminente de ansiedade. Essa interpretação leva ao aumento da ansiedade e temos assim um ataque de pânico induzido.

Sensações corporais tais como taquicardia, sudorese e tontura passam a funcionar como estímulos condicionados para o desencadeamento da resposta de pânico. Outro modelo enfatiza o papel das interpretações catastróficas. Segundo esse modelo os ataques de pânico surgiriam a partir da interpretação catastrófica de sensações corporais. A presença de um estímulo externo (um ruído, por exemplo) ou de um estímulo interno (taquicardia, por exemplo) seriam interpretados como indicativos de perigo – o que levaria ao aumento da ativação simpática. Os sintomas corporais acentuados seriam vistos então como a confirmação de que o perigo é real e teríamos instalado o ataque de pânico. Pacientes com Transtorno do Pânico tendem a se considerar muito vulneráveis à rejeição, reprovação, loucura, perda do controle e morte. Além disso, tendem a considerar que não são capazes de lidar com essa vulnerabilidade. O senso de vulnerabilidade aumenta o grau de ansiedade.

Conclusão


O tratamento do transtorno do pânico em geral é longo – de 2 a 5 anos -, necessita de um acompanhamento médico regular, uso de medicação e terapia cognitivo-comportamental. Apesar do sofrimento envolvendo as fobias e sintomas associados ao TP, com alteração do cotidiano de pacientes e familiares, o TP tem tratamento eficaz e seguro, restituindo a segurança e a auto-estima para os pacientes.



Este texto foi redigido pelo Prof. Antonio Egidio Nardi - Professor Adjunto da Faculdade de Medidna, Instituto de Psiquiatria - Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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